O castelo de Cochem domina o rio Mosela com fascinante atrativo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O castelo de Cochem coroa uma elevação que domina o rio Mosela com fascinante atrativo.
Essa colossal joia arquitetônica faz parte do segundo menor distrito rural do Lander Renânia-Palatinado, grande região da Alemanha.
Com pouco menos de 5.000 habitantes, Cochem só é menos populosa que o distrito rural de Kusel.
Como é possível que de algo tão pequeno na ordem material tenha surgido algo tão grande na ordem do espírito, da arte e da arquitetura?
O castelo de Cochem sintetiza o que a Idade Média fez de melhor e aquilo que o século XIX – século em que o castelo foi restaurado a fundo – sonhou a respeito da ordem medieval.
O século XIX restaurou joias arquitetônicas da Idade Média. Cochem |
E assim acabou nascendo a Cristandade.
O século XIX sonhou com a Idade Média e a ordem da Cristandade e restaurou joias arquitetônicas com uma riqueza de recursos e técnicas que não havia na era medieval.
É uma espécie de regra de três: o século XIX está para a Idade Média como a Idade Média está para Deus.
Porém, os medievais não sonhavam com Deus do mesmo modo que o século XIX sonhou a ordem medieval.
No ponto de partida e ao longo de toda a realização das obras, para o medieval está a fé.
E a certeza de que esta terra é um vale de lágrimas onde o homem se prepara pelas boas obras para ver a Deus durante a eternidade.
Por essa razão o medieval acabava pondo em tudo que fazia, inclusive nas realizações mais pragmáticas, uma certa semelhança do Céu a que ele aspirava.
E essa nota por assim dizer “paradisíaca” impregnou tudo o que os medievais fizeram.
O castelo de Cochem foi construído perto do ano 1000 pelo conde palatino Ezzo, filho do conde palatino Hermann Pusilius.
Cochem aparece pela primeira vez num documento escrito em 1051, quando Richeza, irmã mais velha de Ezzo e ex-rainha da Polônia, legou o castelo ao conde palatino Enrique I.
Salão do castelo de Cochem |
Em 1294, o rei Adolfo de Nassau cedeu ao arcebispo de Trier, D. Boemundo I, a cidade de Cochem, seu castelo e cerca de 50 cidades.
Desde então, os arcebispos de Trier, que também elegiam os imperadores, passaram a governar Cochem.
O arcebispo D. Balduino de Luxemburgo (1307-1354) engrandeceu-o e fortificou-o.
Em 1688, durante as famosas guerras de sucessão do Palatinado, as tropas do rei francês Luis XIV invadiram a região do Reno e da Mosela, se apoderaram do castelo e o incendiaram.
Cochem ficou reduzido a ruínas até 1868 – portanto, no século XIX, ao qual acima nos referimos – até que um rico homem de negócios de Berlim decidiu reconstruí-lo inteiramente a partir das ruínas, mas inspirando-se no estilo neogótico, muito popular no Romantismo alemão.
As brumas envolvendo o castelo de Cochem |
O castelo se encontra a mais de cem metros acima do rio Mosela.
Sob o sol resplandecente do verão, ele supera em beleza, proporção e autenticidade os próprios castelos de Hollywood, tão fantasiosos quanto artificiais.
No inverno as brumas o envolvem, ressaltando aspectos de sua feérica figura, que ora aparecem, ora desaparecem entre as nuvens.
As muralhas externas, primeira linha defensiva em caso de guerra, se adaptam à topografia natural.
Árvores e vinhedos crescem até o próprio pé desses imponentes muros, numa harmoniosa integração da natureza e da civilização.
O arvoredo é como que prolongado por uma minifloresta de torres e pontas que combinam com a vegetação e a geografia, acrescentando o requinte da cultura católica.
Sobre uma torre mais larga, à direita da foto, surge a capela com uma torre de sino bem estreita e original, entre aquele ‘bosque’ de belos pináculos.
Cochem: no vale do Mosela |
Eles formam um conjunto que se diria caótico de acordo com os critérios dos prédios quadrados e sem graça modernos.
Mas eles se harmonizam com insuperável poesia e beleza. Todos eles estão coroados com as mais diversas torrezinhas e janelas em ponta.
No centro surge a cidadela ou torre de menagem, a peça central do sistema defensivo, reinando com impressionante força e majestade.
Poder-se-ia achar que uma torre tão possante e muitas vezes mais imponente que as outras esmaga as torrezinhas.
Mas nada disso.
Tem-se a impressão de que as pequeninas se sentem protegidas e muito bem aconchegadas ao pé dessa formidável torre monárquica.
Duas torrezinhas de Cochem |
Embaixo o rio Mosela corre sereno e como que amparado à sombra da fortaleza.
As plantações de uva para vinho crescem abundantemente sobre as acentuadas encostas que ladeiam o rio.
Assim era o relacionamento social do povo com a nobreza, inclusive a mais elevada. E do medieval com o próprio Deus.
O pequeno se sentia bem protegido pelo grande, a quem servia com enlevo e veneração. Então todos os frutos da harmonia social podiam se desenvolver à vontade num ambiente de cooperação e apoio mútuo, pacífico e aconchegante.
O castelo vigia pela boa ordem do vale, como Deus vigia pela Ordem da Criação |
Se por absurdo um anjo precisasse um dia repousar na Terra, por certo encontraria no castelo de Cochem uma residência ideal.
Então ele poderia, a partir de suas torres, entoar os melhores cânticos de glória a Deus num contexto cultural e natural condigno.
Vídeo: Cochem: castelo nas beiras do Mosela
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Obrigada! Muito lindo e muito interessante. Adoro receber estes e-mails
ResponderExcluirdos castelos e suas hoistórias. Fico encantada com estas obras maravilhosas.
Muito lindo, só que eu acho que deveria falar mais sobre que o construiu, e quem vive atualmente no mesmo.
ResponderExcluirÉ maravilhoso ! O caus arquitetónico é de uma harmonia fantástica.
ResponderExcluirMuito bonito.
De quem é hoje? É do estado, ou de um particular?
É de uma harmonia que encanta. Muito bonito. Os vinhedos em redor dão-lhe uma atualidade fantástica.
ResponderExcluirParabéns pelo blog