Hoje se tenta reviver a vida do castelo em eventos medievalizantes |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O castelo é a residência por excelência do nobre.
A classe nobre bem entendida tem algo de intermediário.
Por um lado, ela participa da glória e do poder real, se bem que em proporções muito diversas, inferiores e subordinadas ao poder régio.
Por outro lado, ela participa e, a bem dizer, está imersa na vida do povo.
O castelo vivia encravado na vida agrícola |
Em certo sentido, era a casa de todos. Todos tinham colaborado para construí-lo. Era o orgulho da região.
No castelo, por certo, morava o nobre e sua família além dos servidores feudais, mais ou menos numerosos segundo a importância da família nobre e o tamanho do castelo.
Mas, ele era o centro da vida feudal.
Ficaríamos espantados se pudéssemos passar um dia num desses castelos feudais.
Antes de tudo, é preciso afastar a idéia que comunicam as casas de certos ricaços modernos, casas de muros altos que afastam os desconhecidos, seguranças, controles eletrônicos e a impressão de que inexoráveis barreiras bloqueiam o acesso ao proprietário.
No castelo todos circulavam e entravam até nas salas mais reservadas do castelão.
Brissac: leito de um nobre casal |
E isto acontecia no pátio interno no verão, e junto à enorme lareira do grande salão no inverno.
O nobre administrava justiça ‒ tarefa árdua e absorvente que depois delegou para a classe dos juízes.
Lá iam diante dele os camponeses em querela, os burgueses que disputavam preços ou direitos, e o dia todo.
Chaumont: o castelo moradia dos nobres |
O nobre a todos devia ouvir e pedir conselho: era uma exigência dos mais caros deveres de fidelidade feudal.
Lá se decidia o quê fazer em tempos de perigo e calamidade, de guerras e epidemias.
Lá aconteciam as grandes festas que o próprio nobre promovia.
Aliás, as festas da família do nobre eram as festas do povo.
O casamento do filho ou da filha do castelão podia facilmente dar azo a uma semana de músicas, bailes, comemorações, com comida e bebida farta para todos pela conta do nobre.
Nos tempos de paz, o castelão tinha sob sua responsabilidade o bem comum de ordem privada.
O Estado com seus agentes como hoje estamos habituados a ver em cada esquina nem existia.
Hunedoara: hoje se tenta reviver as festas medievais |
Também estava a cargo dele o bem comum de ordem pública – decorrente da representação do rei na zona – missão mais elevada, de natureza mais universal, e por isso intrinsecamente nobre.
Quer dizer, o policiamento contra bandidos, criminosos, e toda espécie de malfeitores que poderiam ameaçar a paz e a boa ordem do feudo.
Os nobres de categoria mais elevada podiam ser convocados, e o foram em mais de um caso, a serem conselheiros dos reis.
Era a glória e o triunfo do feudo todo. Podiam chegar a ser o equivalente dos atuais ministros de Estado, embaixadores ou generais.
A figura do proprietário-senhor nobre nasceu assim da espontânea realidade dos fatos.
Trakai; reviver a vida de castelo: um sonho que cresce |
Quando ele olhava para aquela borbulhante população que acorria a seu castelo ele lembrava das gerações de fiéis que haviam servido a seus antepassados desde tempos remotos.
E os servidores, em virtude do contrato feudal, viam no castelão o filho e continuador de uma linhagem benfeitora e amada que tinha feito a grandeza e a prosperidade do feudo.
Chenonceaux: capela, relicário do castelo |
E o castelão que morava no símbolo e orgulho da região era a expressão mais genuína, natural, espontânea, provada em séculos de lutas, misérias, adversidades, trabalhos, sucessos e alegrias, desse grupo feudal.
No coração do castelo, estava a capela.
Muitas vezes com o Santíssimo Sacramente presente e onde o feudo costumava assistir a Missa.
Era a presença sobrenatural de Jesus Cristo abençoando aquele pedacinho da grande e admirável Cristandade.
Castelo de Brissac: modelo de residência nobre
Excelente post... explica muito bem o carisma de uma linhagem e o sentido de nobreza...
ResponderExcluirUm assento apropriado para um barão também era um trono?
ResponderExcluirDiriamos melhor um troneto, ou alguma cadeira que sobresaísse pela sua beleza, nas proporções em geral modestas do castelo de um barão.
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