Bled: feliz concórdia entre a Igreja e o Estado católico |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O lago alpino de Bled, no noroeste da Eslovênia, encerra tesouros da natureza, da civilização e do catolicismo.
O mistério religioso bom e o requinte cultural racional se associam num panorama natural extremamente sugestivo.
De acordo com os escritos mais antigos conhecidos, o primeiro aldeamento humano já existia em 1004. O nome do local é anterior às próprias origens eslavas da Eslovênia.
Bled pertenceu à “marca” de Carniola, concedida naquele ano pelo imperador Santo Henrique II ao bispo Albuíno de Brixen.
A “marca” era um feudo militar criado habitualmente numa área fronteiriça ameaçada ou vulnerável.
Naquela época, a ameaça procedia sempre dos povos bárbaros ou dos muçulmanos.
Origem do castelo
O “marquês” — chefe da “marca” – tinha a incumbência principal de defender o feudo de espada em punho. Foi nesses tempos e circunstancias que nasceu o imponente e aparentemente inexpugnável castelo de Bled.
Situado nos bordes de um precipício sobre o lago, ele impressiona pela sua inacessibilidade e austeridade. Mas, estas eram virtudes para os fundadores e os residentes dos primitivos castelos.
Bled: precipício é garantia de defesa |
Ela se defenderia nele, sob a liderança de belicosos senhores.
No caso, o nobre senhor do castelo de Bled era um bispo.
Não era estranho naquela época que os prelados pegassem em armas contra os inimigos do povo de Deus.
Ainda não havia aparecido o ecumenismo fajuto que não visa a converter os não batizados, mas tão-só a lhes abrir as portas, pondo em grave risco a cultura e a própria Igreja.
Após o bispo Albuíno, o imperador Santo Henrique II doou a “marca” ou marquesado para o seu sucessor na diocese, o bispo Adalberão de Brixen.
Porém, na tarefa de pacificação da Idade Média, a Santa Sé, tirou prudentemente os eclesiásticos da guerra.
E o castelo passou para nobres leigos.
O marquesado de Carniola com seu castelo de Bled passou assim ao duque Rodolfo de Habsburgo como prêmio de sua vitória sobre o rei Ottokar II da Boêmia, na batalha de Marchfel em 1278.
De 1364 a 1919, ou seja, até o fim do Império Austro-Húngaro, Bled fez parte do ducado de Carniola, salvo num breve período entre 1809 e 1816, quando a Europa sofreu os rearranjos geográficos espúrios e caprichosos de Napoleão Bonaparte.
O Santuário na ilha
O castelo ergue sua figura militar sobre um belíssimo lago muito procurado pelos visitantes de bom gosto.
A ilha santuário tendo ao fundo, no alto, o castelo |
Nesse lago há uma ilhota onde sobressai a esbelta e delicada torre da Igreja da Assunção de Maria, local de peregrinação.
O som de seus sinos, segundo os moradores, traz sempre um bom prenúncio.
Antes da ereção dessa igreja, os pagãos cultuavam no local uma deusa lasciva e torpe.
À ilha só se chega hoje de lancha, que ancora aos pés de uma grande escadaria de 99 degraus através da qual se ascender ao santuário em honra da gloriosa Assunção ao Céu de Nossa Senhora, a Virgem Imaculada.
Feliz concórdia entre a Igreja e o Estado
Bled: pátio interior do castelo |
O santuário de Nossa Senhora não poderia existir com essa segurança e despreocupação se o castelo não estivesse aí para defender toda a região.
E o castelo ficaria um pouco tosco e pesado se não tivesse a seu lado a jóia da ilha com a sua igreja da Assunção.
Assim é a boa união que num ambiente católico deve haver entre a Igreja e o Estado.
Bled: no inverno, o mistério envolve o lago |
No inverno, uma densa bruma envolve o lago de Bled, quase tirando a vista do formidável castelo e da delicada ilha-santuário.
O mistério toma conta do ambiente. Mas trata-se de um mistério bom, o qual convida a considerar os grandes mistérios da religião católica.
O lago passa então a constituir um ambiente quase de conto de fadas.
Se não existisse esse feliz consórcio entre o Estado e a Igreja representado pela fortaleza e pelo santuário de Bled, a realidade seria outra.
Por certo, pesada, ameaçadora e malfazeja.
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