quarta-feira, 22 de março de 2023

Aristócrata católico restaura “castelo dourado” francês

Garde Republicaine em Chambord com farda histórica da Maison du Roy
Garde Republicaine em Chambord com farda histórica da Maison du Roy
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Não foi um mago ou uma fada, mas um aristocrata que menosprezou uma brilhante carreira para reencantar o castelo de Chambord e restaurar suas glórias passadas, escreveu a revista “Valeurs Actuelles”.

Jean d'Haussonville teve um sonho na infância: recuperar o castelo real de Chambord esvaziado de mobília, sem jardins franceses e elementos arquitetônicos claudicantes. E em doze anos à frente do domínio nacional de Chambord, ganhou o apelido de “mago de Chambord”.

O castelo e seu parque se tornaram propriedade do estado em 1930, mas a burocracia estatal exalando o mofo da Revolução Francesa, não fez muito por ele.

Foi uma obra catedral desejada por Francisco I e inspirada em Leonardo da Vinci, construída no maior parque florestal fechado da Europa: 50 quilômetros quadrados.

O evidente desinteresse estatal, responsável pela manutenção, esteve na origem do desabamento de um andar que feriu seis pessoas, após anos de ser transformado em mero estabelecimento público de cariz industrial e comercial.

Jardins restaurados de Chambord
Jardins restaurados de Chambord
A Cour des Comptes, Tribunal responsável, surpreendeu-se “com o estado de degradação de certas partes [...] indignas da imagem de Chambord” e das “receitas do espólio a um nível anormalmente baixo”.

O gênio aristocrático fez o milagre, e em doze anos, o número de visitantes passou de 600 mil para mais de 1 milhão (1,053 milhão em 2022); o valor da receita cresceu por dez e o número de funcionários, por dois.

O nobre de Haussonville, descendente de Madame de Staël e de uma das famílias mais ilustres de Lorena, apenas empossado decidiu abrir mais uma dezena de quartos e trazer móveis do Mobilier National para preencher as depredações feitas pela Revolução Francesa.

Multiplicou as atividades dentro e fora do castelo: concertos de música, shows equestres, falcoaria, cavalgadas, …

Exibição cavalaria medieval em Chambord
Exibição cavalaria medieval em Chambord
Ele transformou o histórico hotel Saint-Michel em um luxuoso hotel quatro estrelas, investimento inteiramente financiado pelo empresário privado Frédéric Jousset.

“Procurei unir a preocupação com a estética e os negócios, sem nunca vender a alma de Chambord ou a minha”, enfatizou Jean d'Haussonville.

Seu diretor de caça, Étienne Guillaumat, confirmou: “Ele tudo fez para melhorar as condições de recepção do público, inclusive dos caçadores; até os uniformes dos agentes e o cerimonial das homenagens com o jogo durante as batidas do regulamento foram reformulados”.

Chambord tornou-se para a caçada um local de referência mundial; Delegações japonesas viajam para Chambord para descobrir como controlar a população de javalis que está invadindo a Terra do Sol Nascente.

Em 2016, conseguiu do americano Stephen Schwarzman um donativo de 3,5 milhões de euros para financiar o restauro dos jardins franceses.

Mobilia de Chambord
Mobilia de Chambord
Tratou-se de um replantio de 600 árvores, 800 arbustos, 200 roseiras... e o deputado honorário Guy Teissier, membro dos Amigos de Chambord, definiu que “Jean acordou a bela adormecida”.

Sofreu oposições e é claro foi invectivado pelo seu perfil de católico aristocrático. Mas soube ser um formidável negociador. “Um punho de ferro em uma luva de veludo”, resume seu amigo Dominique Villeroy de Galhau.

“Ninguém resiste ao charme de Jean; ele consegue convencer quem não bebe uma gota de álcool a investir no vinho Chambord”, ri. Pois em 2015, decidiu replantar quatro hectares de Romorantin, Pinot e Sauvignon e ofereceu aos investidores a oportunidade de comprar vinhas (1.000 euros cada). O sucesso é tanto que Chambord aplica o modelo em árvores da horta, tílias, bancos, árvores cítricas, etc.

Jean d'Haussonville será substituído e aguarda agora seu próximo compromisso. “Deixo como presente ao meu sucessor a restauração das lanternas, que será concluída na primavera; um canteiro de obras de 4 milhões, necessários para a segurança”.

Duas das seis lanternas, de 12 metros e 15 toneladas cada, ameaçavam desabar.

Livre de andaimes Chambord revela aos olhos do mundo inteiro sua melhor luz, erguido como um símbolo da gestão de um bem público.











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segunda-feira, 13 de março de 2023

Edimburgo: sobre um vulcão apagado: lendas, guerras e saudades de uma rainha de fábula

O castelo de Edimburgo na noite fala de suas lendas e tragédias
O castelo de Edimburgo na noite fala de suas lendas, saudades e tragédias
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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O castelo de Edimburgo é uma antiga fortaleza que domina a capital da Escócia, desde o topo chamado Castle Rock (Rochedo do Castelo).

O castelo ergue-se no colo de um vulcão extinto. Ao sul, oeste e norte, ele é protegido por íngremes falésias elevadas de uns 80 metros.

A única estrada de acesso vem pelo leste, facilitando a defesa.

A primeira referência ao lugar já imerge na lenda. Em meados do século II, Ptolomeu (83–168 d.C.) refere-se a uma “Alauna”, mencionada pelos romanos.

Um certo “Ebrawce”, lendário rei bretão, teria construído Edimburgo na época em que David reinava em Israel (por volta do ano 1000 a.C.).

As origens do castelo de Edimburgo imergem na lenda
As origens do castelo de Edimburgo imergem na lenda
Fato dificílimo de provar, mas revelador do gosto do povo escocês pelos fatos lendários que emolduram a existência quotidiana com acentos grandiosos.

A arqueologia detecta a presença romana na região nos séculos I e II da era cristã.

Os primeiros dados certos provêm da Idade Média. Por volta dos anos 600, aparece no poema épico Y Gododdin uma referência ao Castle Rock.

Segundo o poema, o rei Mynyddog Mwynfawr de Gododdin e seu bando de guerreiros praticaram gloriosos feitos de valor e bravura contra os anglos, mas foram massacrados.

O território em volta de Edimburgo foi parte do reino da Nortúmbria, ele próprio absorvido pelo reino de Inglaterra no século X.

A primeira referência documentada a um castelo em Edimburgo fala do “Castle of Maidens”, onde morreu Santa Margarida de Escócia em 16 de novembro de 1093.

Dentre os mais antigos corpos do castelo em pedra, figura a Capela de Santa Margarida e uma igreja dedicada a Nossa Senhora, provavelmente do século XII.

Interior do castelo de Edimburgo
Interior do castelo de Edimburgo
Em 1174, o rei Guilherme I da Escócia, o Leão (1165 – 1214), foi capturado pelos ingleses na Batalha de Alnwick e forçado a entregar os castelos de Edimburgo, Berwick e Stirling.

O castelo de Edimburgo, porém, regressou às mãos de Guilherme I como dote da sua noiva inglesa Ermengarde de Beaumont.

A Inglaterra tentou sempre se apropriar do reino escocês provocando guerras, razão pela qual a posse do disputado castelo originou lances históricos.

O Tratado de Berwick, de 1357, pôs fim às guerras, garantindo a independência da Escócia. O castelo de Edimburgo se tornou a principal residência real escocesa. Mas a Inglaterra não perdeu as esperanças.

Maria Stuart rainha da Escócia
e seu marido o rei Francisco II da França
Muitos foram os fatos de armas célebres e muitas as lendas fabulosas envolvendo o castelo.

Porém, nenhuma se equipara à rainha de fábula que nele viveu prisioneira: Maria Stuart, última rainha de Escócia.

Filha de Jaime V, ela se casou com o futuro rei da França, Francisco II.

A jovem princesinha conquistou a França inteira com seu charme, talvez só comparável ao de uma muito posterior parenta sua: a rainha Maria Antonieta, também da França.

Porém, a tragédia abateu-se sobre a jovem rainha. Francisco II faleceu muito jovem.

Duas vezes rainha, a viúva Maria Stuart deixou o luminoso reino da França e voltou para o seu brumoso reino natal do Norte.

E encontrou-o dividido em feroz oposição de protestantes sediciosos contra católicos fiéis, com a cobiça da Inglaterra na espreita.

Marcada pelo encanto e pela tragédia, a católica Rainha Maria foi para seus fiéis uma Maria Antonieta da Escócia.

Ela se casou em segundas núpcias com Henrique Stuart, Lord Darnley, e no castelo de Edimburgo deu à luz a Jaime, que se tornaria mais tarde rei da Escócia e da Inglaterra.

A melhor nobreza permaneceu fiel à sua causa. Porém, após sucessivas rebeliões, a rainha teve que fugir para a Inglaterra, onde reinava sua prima Isabel I Tudor.

Como Maria Antonieta, a rainha Maria Stuart foi acusada de conspiração e alta traição, sendo condenada à morte num processo arranjado.

Ela compareceu à execução – realizada no castelo de Fotheringhay por ordem de Isabel I – vestida de vermelho, para patentear que morria como mártir católica Em seguida foi decapitada.

Interior do castelo de Edimburgo
Interior do castelo de Edimburgo
Seu crucifixo foi esmagado no chão e a Inglaterra acabou ficando com a coroa da Escócia.

A saudade inextinguível que deixou a rainha Maria Stuart suscitou diversas rebeliões “jacobitas” – em referência a Jacobo Stuart, pretendente ao trono usurpado pelos reis ingleses.

Durante essas tentativas “jacobitas”, o castelo funcionou como fortaleza militar, prisão de guerra, abrigando paióis de pólvora, armazéns, e novos quartéis.

A capela de Santa Margarida caiu em desuso quando a Reforma Protestante estupidamente a transformou em paiol de pólvora.

No século XIX houve um arrefecimento dos conflitos.

Em 1818, Sir Walter Scott recuperou os símbolos da Coroa Escocesa, que foram instalados no castelo de Edimburgo.

Os apartamentos reais usados como residência dos últimos monarcas da Casa de Stuart incluem a Sala da Coroa.

Nesta Sala são expostas as Honras da Escócia, símbolos do reino: a Coroa da Escócia, o cetro e a espada de estado.

A coroa é feita de ouro escocês e tem, incrustadas, 94 pérolas, dez diamantes e 33 outras gemas. O cetro de ouro é encimado por uma grande pedra de cristal.

Maria Stuart que chegou a ser rainha de três reinos
Maria Stuart que chegou a ser rainha de três reinos
A Pedra de Scone, sobre a qual os monarcas da Escócia eram tradicionalmente coroados, também é conservada nessa Sala.

O Grande Hall, construído pelo rei Jaime IV como local principal da assembleia de estado, foi usado para encontros do Parlamento da Escócia.

Porém, quando os fanáticos protestantes seguidores de Oliver Cromwell invadiram o castelo, converteram-no em quartel para tropas, subdividindo-o em três andares.

Hoje o símbolo de Edimburgo e da Escócia paira sobre a cidade, falando da alteridade heroica e fabulosa de um reino que conheceu seu esplendor sob o signo do catolicismo.

E teve na rainha Maria Stuart uma rosa nascida numa tempestade de ocaso, mas que ainda continua perfumando o castelo e a Escócia inteira.



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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Os castelos de piratas do Reno

Pfalzgrafenstein
Luis Dufaur
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Alguns dos castelos do Reno que depois viram nascerem estirpes feudais foram outrora ninhos de piratas.

Em geral os rios antes de aparecerem a grandes rodovias eram usados como as rodovias hoje.

O Reno servia para exportar mercadoria da Suíça, onde nascia, e da Alemanha até o Mar do Norte. Era só ir rio abaixo.

Isso tornava o rio uma rodovia aquática muito cômoda.

Esses piratas ficavam com castelos bem à beira do rio, ou em ilhas dentro do Reno.

Quando eles viam se aproximar flotilhas de naviozinhos cheios de mercadoria, eles iam com homens de armas, pegavam as mercadorias todas, roubavam e matavam e ficavam ricos.

Pfalzgrafenstein conserva o perfil de um navio de interceptação
Depois, sob a influência da Igreja Católica veio o apaziguamento, e os costumes se tornaram mais civis e menos belicosos.

Ao longo do tempo, nasceu naquelas fortalezas uma “vie de château” (“vida de castelo”) cristã.

Os piratas foram mobiliando e adornando seus castelos, tomaram ares nobres, se civilizaram.

Depois conseguiram comprar de verdadeiros nobres terras que conferiam um título de nobreza.

Afinal, o neto ou bisneto do bandido acabou virando um pequeno barão civilizado que já não roubava mais os navios.

Um exemplo: o castelo de Pfalzgrafenstein (em alemão: Burg Pfalzgrafenstein) sobre o recife da ilha Falkenau no Reno.

Ele ficou conhecido simplesmente como “o Pfalz” e é um dos mais famosos e pitorescos.

A planta da torre central é pentagonal e aponta contra a correnteza.

Foi erigido entre 1326 e 1327 pelo rei Luis da Baviera.

Castelo de Gutenfels no alto, e cidade de Kaub embaixo
Entre 1338 e 1340 foi acrescido de um muro hexagonal.

E entre 1607 e 1755 ganhou as torrezinhas nos ângulos enquanto a torre principal foi coroada com uma típica ponta barroca, testemunhando a amenização dos costumes.

O castelo devia colher impostos para o rei.

Impostos não por todos julgados justos ou procedentes. Mas, ai de quem não pagasse.

Uma corrente de ferro atravessava o rio e obrigava barcos e barcaças a pararem.

Mais alto estava o castelo de Gutenfels e ao lado a cidade de Kaub de onde viriam homens para arrazoar o renitente pagador do imposto.

Os comerciantes que não abrissem o bolso podiam ir parar numa prisão em Pfalz.

E ali ficavam até o resgate ser coberto.

Por sinal, essa prisão consistia numa gaiola flutuante no rio.

Pfalzgrafenstein pátio interior revela vida austera
Contrariamente à maioria dos castelos do Reno, “o Pfalz” nunca foi conquistado ou destruído não apenas em guerras, mas também não por fenômenos naturais como enchentes.

Seus moradores, não mais de vinte, levavam uma vida autenticamente espartana.

Hoje, ele fica como um sorriso que testemunha o triunfo da Civilização Cristã sobre a barbárie.




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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Existe um super-castelo onde vemos melhor a Deus?

Castelo de Vitré, Bretanha, França
Castelo de Vitré, Bretanha, França
Luis Dufaur
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Olhando por exemplo para um castelo, as impressões nos encaminham para algo que é ainda mais do que o castelo que estamos vendo.

Subconscientemente pensamos em um super-castelo que não existe, mas que, em rigor, poderia existir. E então gostamos de pensar nesse super-castelo ideal.

Como ele seria?

Para exemplo, usamos fotos do catelo de Vitré, na Bretanha, França.

O primeiro castelo em pedra foi construído pelo Barão Robert I de Vitré no final do século XI substituindo um castelo em madeira de cerca do ano 1000. No século XIII, o Barão André III deu-lhe a sua forma atual.

Nos séculos XV e XVI prevaleceu a procura do conforto e reformas em estilo renascentista. O Parlamento da Bretanha refugiou-se no edifício em três ocasiões (1564, 1582 e 1583) por ocasião de epidemias de peste.

 Entre 1547 e 1605, Vitré tornou-se bastião huguenote. Em 1605, o castelo passou para a família católica de La Trémoille. Ficou abandonado no século XVII.

Após a barbárie da Revolução Francesa, a residência senhorial virou prisão e, depois, quartel. Em 1875 iniciou-se a restauração. Atualmente, a câmara municipal de Vitré funciona no recinto e a praça do castelo tornou-se republicano estacionamento. 

Esse super-castelo, esse trans-castelo, só existe na nossa mente. Só na nossa mente? Não! Existe na mente de muitos outros, mas de um modo até muito diferente.

Castelo de Vitré, Bretanha, França
Castelo de Vitré, Bretanha, França
Então, esse trans-castelo tem uma certa existência. Ele existe numa esfera que não é a terrena. Poderíamos chamá-la de trans-esfera.

E essa trans-esfera pode ser objeto de uma análise do ponto de vista filosófico e teológico.

O que é esta trans-esfera dos castelos ideais que não existem materialmente? Não é uma esfera nova da realidade, mas algo que o espírito humano concebe como um produto do espírito. Ela existe na inteligência do homem.

Seria, segundo a terminologia da filosofia escolástica, um ens rationis, isto é, um ser ou ente que é concebível, porém não realizável fora do espírito (cfr. Regis Jolivet, Vocabulaire de la Philosophie, Emmanuel Vitte Éditeur, LyonParis, 1946, 2a ed., verbete être).

É uma imagem que o espírito humano cria para si, de uma ordem hipotética, não existente.

A partir de aspectos fugazes, de lampejos das coisas, nós construimos um modo habitual de ver todos os seres.

O homem sabe que essa trans-esfera, como ele a vê, de fato não existe.

Mas sabe que, quando os homens todos caminham muito rumo a Deus, todas as coisas da realidade são susceptíveis de serem sublimadas e constituírem uma visão transcendente. E assim formamos uma super-realidade, i. é, uma trans-esfera.

Neste sentido, a trans-esfera está composta de coisas possíveis existentes apenas na mente divina, que nos compete desenvolver e explicitar. Nos seres ideais dessa super-realidade nós vemos muito mais marcantemente os reflexos de Deus.

Castelo de Vitré, Bretanha, França
Castelo de Vitré, Bretanha, França
De maneira que a trans-esfera é um possível em Deus do qual nós temos certa noção a partir de seres criados ou de obras feitas pelos homens. Por exemplo, super-castelos que Deus poderia fazer e que nós imaginamos a partir dos castelos que já existem.

Desta maneira, de algum modo, esses castelos possíveis vivem em nós. E ele nos fornecem modelos ideais para o qual devemos tender e que inspiram os construtores de castelos materiais.

Quando esses possíveis reluzem em nós, nos dão a idéia do palácio interior que cada um deve construir dentro de si próprio.

A graça divina nos convida a realizar isso. Há algo da vida do próprio Deus, que é a graça que nos solicita a ver todas as coisas assim. A ver no castelo, para acima dele, o super-castelo.

Portanto, a trans-esfera onde existem esses trans-castelos irreais nos projeta na ordem sobrenatural. E ali nos nós tornamos de algum modo cidadãos do palácio ou da cidade que ainda não construímos.

Essa cidade ideal que ainda não construímos, de algum modo já vive e existe em nós.

Fonte: “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008.



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