Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Chateaubriand, grande romancista do século passado, era filho do Visconde de Chateaubriand. A família possuía um castelo da Bretanha perto do mar: Combourg.
É um castelo enorme e a família era pequena, de maneira que não dava para encher todas as alas do castelo. Então o pai, para fazer o castelo habitado em todas as suas partes distribuía a família pelas várias partes do castelo.
E Chateaubriand –menininho de 9, 10 anos, mas já chamado nessa idade Monsieur le Chevalier –, quando chegava 21:00 horas em que o serão familiar se interrompia, recebia um castiçal com uma vela na mão e ia para uma torre perto do mar, onde uivavam todos os ventos.
Combourg fica perto da Mancha cujos ventos são famosos. É um dos trechos do mar mais agitado que há no mundo.
Os ventos todos sopravam por aquela torre, e Monsieur le Chevalier, por mais “Chevalier” que fosse tinha as reações de um menino diante do vento.
Tanto mais que em Combourg havia histórias de fantasmas, aliás de todo castelo se diz que tem fantasmas.
Quando chegava a noite no inverno, ele fechava a cortina em torno da cama. Esse cortinado formava uma verdadeira tendazinha em torno da cama, para que o calor das cobertas e do corpo fique conservado.
Então Monsieur le Chevalier subia alguns degraus para se encarapitar numa cama muito alta e muito grande onde Le Chevalier nadava.
Na torre os ventos uivando, uivando, uivando... E ele naquele cortinado, com pavor que, de repente, um fantasma pálido como a lua abrisse a cortina e olhasse para Monsieur le Chevalier.
Os nobres que eram educados assim, depois quando adultos faziam de tudo, como Chateaubriand. Todos eles eram aventureiros, porque ficaram habituados à aventura desde meninos.
Um velho ditado diz que em menino se torce o pepino. E é o hominho que vai fazer grande o homem.
Quem quiser ter grandes homens tenha grandes hominhos. Nada de educação tola para crianças, com bola boba para criança boba, nada disso.
“Relegado ao lugar inabitado junto à entrada das galerias subterrâneas, não me passava despercebido um só dos murmúrios das trevas. Por vezes o vento parecia correr com passos ligeiros; por vezes exalava gemidos; bruscamente minha porta era sacudida com violência, os subterrâneos rugiam, e depois cessavam para recomeçar mais tarde. Às quatro horas da manhã, a voz do castelão (que era o pai dele) se fazia ouvir chamando o camareiro, sob as abóbadas seculares, ressoando como a voz do último fantasma noturno”.
Reconstituição do quarto de René de Chateaubriand
Então, o último fantasma da noite diante do dia que nascia era o velho Chateaubriand, esquelético, alto, com um olhar que batia como uma pedra e que chamava.
Monsieur le Chevalier entendia que chegou a hora de escapar de lá e de voltar para o convívio dos vivos. Ele tinha passado uma noite inteira com os fantasmas.
A vida dos nobres medievais ‒ Chateaubriand não é da Idade Média, mas há muitas analogias ‒ era muito dura.
Por isso, a maioria da população gostava ficar no aconchego das classes populares, gordas, bem alimentadas, bem aquecidas, preocupadas apenas com o trabalho, a produção, o comércio, a família e a festa.
O nobre era o protetor e o garante da felicidade geral.
Mas, ele próprio no seu castelo, vivia uma vida austera que formava heróis para o dia em que o perigo se abatia sobre a região toda e ele tinha que sair o primeiro a expor a vida para salvar a todos.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 16.2.73. Sem revisão do autor)
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