O criminoso fuzilamento do duque d'Enghien |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Continuação do post anterior: Vincennes, castelo de um rei santo, cheio de ensinamentos históricos
Correm as páginas da história, e um crime famoso se comete no castelo de Vincennes e deixa mais uma vez a sua marca no castelo.
A execução do duque d’Enghien por Napoleão.
O príncipe era um dos cavaleiros mais brilhantes do seu tempo e último da raça de Condé, de sangue real.
Napoleão percebia que o império dele não podia durar muito. E que a dinastia dele toda feita de usurpações e ilegitimidades, também não poderia durar muito.
E que mais cedo ou mais tarde, pela lei pendular da história, o pêndulo da História deveria oscilar e chegar de volta à monarquia temperada legítima.
Acontecia que a dinastia legítima tinha poucos descendentes. Luís XVIII era viúvo, não tinha filhos e já era velho. O irmão dele Carlos X só tinha m filho, e desse filho e mais nada, também já era viúvo e sexagenário, não era provável que tivesse outro filho.
O donjon (torre de menagem) atinge 52 metros |
Ficava ainda um ramo colateral, o duque d’Enghien, era o que era o último príncipe de sangue real da família Bourbon. Este homem brilhante lutava contra a Revolução na chamada Armée des Princes.
Então, Napoleão mandou prender uma noite, foi levado para o castelo de Vincennes, e executado barbaramente, depois de um simulacro de julgamento, no fosso junto à muralha do castelo.
Este crime impressionou enormemente todos europeus, foi uma coisa tremenda. No lugar onde o duque foi executado há uma coluna comemorativa do crime precisamente onde ele se deu.
É também deste tempo uma outra figura que marca a história do castelo de Vincennes.
É um tal general Daumesnil, oficial de Napoleão, que na famosa batalha de Wagram, levou um tiro e perdeu a perna. Usava uma perna de pau. Chamavam-no Daumesnil jambe de bois — Daumesnil, perna de pau.
Arcos góticos dos salões no interior do donjon |
Quando os inimigos de Napoleão invadiram a França intimaram o Daumesnil a entregar-se. Ele respondeu: eu lhes entregarei o castelo no dia em que os senhores me restituírem a minha perna.
Equivalia dizer: vou resistir até o sangue. O pessoal não investiu e retirou-se.
Afinal, quando o rei Luís XVIII voltou ao trono. Daumesnil levou seis meses para entregar a torre ao rei, dizendo que sendo para entregar a franceses, ele entregava e saía.
É mais uma figura de muito colorido que passa pela história do castelo de Vincennes.
Um duque de Beaufort parente ilegítimo da casa real francesa lutava contra o rei, e o rei mandou prender. O duque resolveu fugir. Todos os dias, a uma hora certa, um funcionário do castelo abria a sala em que estava preso tudo e passeava com ele pelo alto da muralha.
Um dia o duque que era um homem corpulento, pagou umas cordas ocultas e fugiu. O funcionário nunca ia ser perdoado pelo rei, mas iria morar no exterior com a bolsa cheia de dinheiro.
Vincennes sob a neve |
Então se deixou cair com a tentativa de pegar uns cavalos e sair correndo.
Mas com tanto infortúnio que caiu no fosso do castelo e desacordou. Conseguiram re-amarrar o homem com cordas, e levá-lo desacordado embora. Mais tarde ele se recompôs e tocou a vida dele.
Esta evasão ficou uma das mais famosas da história.
Naturalmente, à medida que vai chegando a nossa época, a coisa vai ficando mais sem graça.
Agora, o silêncio e a paz da história pousam sobre os restos do castelo envolvidos por uma vegetação esplêndida.
Aqui está o lado poético da história e o contraste entre a inércia da pedra velha e a beleza da vegetação nova.
Há uma ponte, uma bonita alameda de árvores e a torre de entrada com porta levadiça.
Na entrada dos fundos a ponte levadiça foi substituída com uma grade, onde se percebe a força e a grandeza da obra.
A folhagem forma um cortinado magnifico que o mais caprichoso dos desenhistas, ou dos paisagistas, não conseguiria imaginar.
A natureza produz coisas que os homens devem deixaram fazer porque porque Deus ordenou estas criaturas de tal maneira que pela vontade d’Ele e pelo jogo das causas segundas elas produzem coisas lindas destas.
Nem tudo deve ser dirigido, nem planejado. Boa parte das coisas se deve ir deixando vicejar por si mesmas, que elas ficam mais belas do que se fossem ordenadas.
Vincennes: harmonia entre a natureza e o espírito medieval |
O donjon (torre de menagem) é estupendo, monumental, medieval, gótico.
Tem enfeites de significado heráldico; ameias que formam uma unidade com estas torres mais ornamentais do que reais.
Dosséis indicam figuras de santos de um lado e de outro desta torre. De santos, de reis ou de profetas.
Podemos imaginar a beleza, a gente sentada aqui, a água ali, baixar a ponte levadiça e o olhar do viajante descobrir esse sol todo, essa beleza por detrás dessa pedra antiga e severa. É a Idade Média.
A altaneiria, a força e um certo garbo do donjon parece dizer que ele se sente feliz de ter chegado tão alto e de respirar os ares puros da altura.
Ele preside e ordena tudo. Ele incute uma ideia de ordem, de tranquilidade, de bom senso, de lógica e de coragem que é uma verdadeira maravilha. É o famoso donjon de Vincennes.
O donjon lembra vagamente a Torre de Belém. É o mais alto elogio de uma torre. Porque o donjon de Vincennes é muito bonito, mas perto da Torre de Belém é um anão.
Ele nos dá uma bonita lição a respeito do que há de nobilitante na desigualdade.
É a nobre beleza do convívio entre desiguais. Igualitário moderno é, por exemplo, o chão de uma rua asfaltada.
Vídeo: Vincennes: maravilha medieval ornada pelos eventos históricos posteriores
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra de 16.2.79, sem revisão do autor)
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