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Almourol: castelo de heroísmos e mistérios |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
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O castelo de Almourol, no distrito de Santarém, em Portugal, foi erguido numa pequena ilha de 310 m de comprimento por 75 m de largura, no curso médio do rio Tejo, à época da Reconquista.
Moedas romanas do século I a.C. e medalhas do período medieval desenterradas no local falam de sua história.
A partir do século III, o local foi ocupado por Alanos, Visigodos e pelos muçulmanos a partir do século VIII que o nomearam Al-morolan (pedra alta).
À época da Reconquista cristã Almourol foi tomado pela força em 1129 por D. Afonso Henriques (1112-1185).
O soberano entregou-o aos cavaleiros da Ordem dos Templários, então encarregados do povoamento do território entre o rio Mondego e o Tejo, e da defesa de Coimbra, então capital de Portugal.
Nesta fase, o castelo foi reedificado, tendo adquirido as suas atuais feições, características da arquitetura templária.
Planta quadrangular, muralhas elevadas, reforçadas por torres adossadas, dominadas por uma torre de menagem.
Uma placa epigráfica, colocada sobre o portão principal, dá conta de que as suas obras foram concluídas em 1171, dois anos após a conclusão do Castelo de Tomar, edificado por determinação de Gualdim Pais.
Almourol integrava a Linha do Tejo dos Templários e constitui um dos exemplos mais representativos da arquitetura militar da época.
Sobre a porta principal do castelo, uma inscrição datada de 1209 (1171), menciona Gualdim Pais e sua ação militar contra os muçulmanos no Egito e na Síria, bem como sua ascensão à chefia da Ordem do Templo em Portugal e a subsequente construção dos castelos de Pombal, Tomar, Zêzere, Cardiga e Almourol.
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Almourol está intimamente ligado à história de Portugal,
dos Templários e também do Brasil. |
O Almourol foi ponto nevrálgico da zona do Tejo, controlando o comércio entre a região e Lisboa.
E está intimamente ligado aos primórdios do reino de Portugal e a história dos Templários.
Isso nos leva a refletir sobre um aspecto presente em todos os castelos, porém muito palpável em Almourol: o mistério e a lenda.
A Ordem dos Templários foi extinta pelo papa Clemente V em 1311. O episódio gerou uma polêmica que ainda perdura.
O rei francês Felipe o Belo teria pesado inescrupulosamente nessa interdição e confiscado iniquamente seus bens.
Como a ordem do Papa não foi efetivada em Portugal, muitos cavaleiros templários refluíram para o reino luso, onde possuíam grandes castelos como o de Tomar. E também Almourol.
Por fim, o rei D. Dinis (1279-1325) transformou a Ordem do Templo em Ordem de Cristo, que herdou posses e privilégios dos templários.
Almourol passou então a integrar o patrimônio da Ordem de Cristo. Essa Ordem teve parte muito grande na expansão do império português, a ponto de as naus que descobriram o Brasil lhe pertencerem, ostentando a respectiva Cruz em suas velas e o novo país ser batizado Terra de Santa Cruz.
O terremoto de 1755 danificou a estrutura do castelo, que foi recuperada com modificações no século XIX. Nessa fase, a tendência era de valorizar as obras do passado à luz de uma visão ideal. E ali entra a questão do mistério e da lenda de Almourol.
Hoje o castelo se ergue numa ilha isolada, outrora de difícil acesso, destacando-se pela sua austeridade. Tudo nele parece pensado para suportar o assalto de atrevidas hordas maometanas.
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Almourol: austeridade e combatividade |
Nada fala em acomodações nem em facilidade de vida. É o castelo ideal para guerreiros combatentes que transitam entre uma batalha e outra, numa vida de luta em favor da Cruz de Cristo.
Essa fortaleza rude e áspera está envolta no mistério. Falou-se, sem nunca se provar, que ali estaria escondido o “tesouro dos templários”.
A suposição tem muito de mítico, mas encarna a impressão geral de que a história dos templários não está concluída.
De alguma maneira, ela não terminou com a proibição real e papal.
Com efeito, como vimos, a Ordem de Cristo ainda descobriu o Brasil e, em certo sentido, ganhou mais territórios para a Igreja – incluído o maior país católico do mundo hoje em dia – do que transitoriamente os templários ganharam na Terra Santa.
Alguns falam de um “revide” templário que ainda viria.
Cabe neste caso deixar de lado as fantasias quixotescas ou as iniciativas ocas, não raras vezes intoxicadas pela literatura de botequim, ocultismo e maçonismo de baixo nível.
O enigma dos templários toma corpo a partir do momento em que um alto plano de Deus foi interrompido pelos homens, mas que ainda vai se realizar por vias que escapam ao raciocínio ou à intuição humana.
Almourol, nesse sentido, não fala apenas do passado, mas de um futuro que encerra muitos acontecimentos vindouros.
Como, aliás, também, não longe de Almourol, a Fátima das aparições.
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