quarta-feira, 27 de julho de 2022

Origem do nome da grande fortaleza de Carcassonne

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A lenda narra uma história assaz pitoresca, e um pouco hilária, sobre a origem do nome da cidade de Carcassonne.

A fortaleza da época, assaz pequena, foi assediada durante longos anos e estava quase reduzida à fome.

Utilizando suas últimas reservas de farinha, a Dama Carcas teve a ideia de engordar um porco que ela lançou do alto das muralhas no campo dos assaltantes.

Estes, persuadidos de que a Cidade possuía ainda numerosas reservas de víveres, resolveram levantar o cerco.

Empunhando então uma trompa, em sinal de vitória, a Dama Carcas tocou (fez soar) a retirada do inimigo. [Daí “carcas-soa” = Carcas toca a trompeta]

As origens remotas de Carcassonne vêm dos tempos dos Celtas, Galo-romanos e Visigodos.

Na Idade Média foi construído o imponente conjunto de fortificações, com dupla linha de muralhas, que representa o ápice da engenharia militar do século XIII.

O traçado irregular das ruas estreitas contrasta com a magnificência das muralhas.

O atual castelo foi completado com um segundo cerco de muralhas por ordem de São Luís IX e é guarnecido por 59 torres e barbacãs, além de poternas e portas fortificadas.

O conjunto foi restaurado no século XIX por Violet-le-Duc. Em verdade, a restauração só atingiu o 30% da fortaleza, mas ainda assim é a maior da Europa.



Uma fortaleza cobiçada por muçulmanos e heresias ferozes

Carcassone na ‘Língua de Oc’, do Languedoque, ou Carcassonne em francês e também em português fica na região de Aude, na Occitânia no sul oeste da França.

A 90 quilômetros a sudeste de Toulouse, 60 km a oeste de Narbona e cerca de 70 km a oeste da costa mediterrânica.


Os francos tomaram a cidade aos sarracenos no século VIII e chamaram à cidade Karkashuna.

Pepino, o Breve, pai de Carlos Magno, reconquistou o Languedoque dos morros em meados do século VIII.

O local foi habitado no Neolítico, como é atestado por objetos que se encontram no Museu de Toulouse.

Esse sítio proto-histórico junto ao rio Aude, Plínio, o Velho (século I d.C.) designa com o nome de Cascasso dos Volcas Tectósagos (em latim: Carcaso Volcarum Tectosage).

No fim do século II a.C. foi ocupado pelos romanos que o fortificaram em 118 a.C.

Os sarracenos invadiram no século VIII até sofrerem a formidável derrota de Poitiers por Carlos Martel, mas chegaram a permanecer durante cerca de 30 anos como também na vizinha Lourdes.

Após a dissolução do Império Carolíngio no final do século IX, Carcassone foi governada pela dinastia da família Trencavel entre os séculos XI e XIII, prosperando e se tornando um local estratégico de primeira importância no Languedoque.

A heresia cátara com suas perversões teve muitos adeptos em Carcassone, protegidos pelo visconde Raimundo Rogério Trencavel (1185–1209)-

O Papa declarou a cidade terra de heresia pelo papa e foi um dos alvos da Cruzada Albigense, liderada primeiro pelo legado papal Arnaldo Amalrico e depois por um dos maiores heróis medievais Simão de Montfort.

Em agosto de 1209, o exército de cruzados sitiou tomou dois burgos rapidamente e as muralhas e fortificações ainda resistiram até que Trencavel capitulou após duas semanas de cerco, foi preso e morreu pouco depois.

As terras dos heréticos foram dadas ao célebre Simão de Monfort.

O filho dele, Amalrico VI, doou depois as terras ao rei de França, que as integrou no domínio real em 1224.

Em 1234 foi instalado na cidade um tribunal da Inquisição e quando em 1240, Raimundo II Trencavel, liderou uma tentativa de revolta, o rei São Luís a esmagou.

A a população herética se estabeleceu na outra margem do Aude, alimentando uma rivalidade feroz social e econômica.

Mas a cidade de São Luis prosperou a ponto de ultrapassar os revoltosos que perderam todo o poder e influência política.

Em 1248 a cidade foi dotada de um governo municipal autônomo, como era o costume medieval.

No caso, a cidade passou a ser governada por seis cônsules com a ajuda dos notáveis locais. No século XIV, a cidade era o principal centro de produção têxtil de França, que usava como matéria prima a lã proveniente dos rebanhos da Montanha Negra e do Maciço das Corbières.

Em 1348 a peste assolou Carcassone e a Guerra dos Cem Anos provoca numerosos danos. O Príncipe Negro devastou a cidade baixa mas desistiu de cercar a fortaleza que foi fortificada em 1359.

O rei Luís XI (1461–1483), este confirmou os privilégios da cidade.

Em 1531 o protestantismo veio se alimentar com ressaibos da heresia cátara – como aliás faria o nazismo no século XX – mas os calvinistas foram perseguidos e a cidade tornou-se uma base para os católicos.

Esse, usaram Carcasonne para lançar ataques contra as aldeias protestantes nas guerras de religião. Por volta de 1560, os protestantes de Carcassone haviam sido massacrados.

O comércio de tecidos e a riqueza que fornecia prevaleceu sobre a natureza militar da cidadela e embelezou a cidade. O absolutismo real favoreceu as manufaturas para abaixar os nobres.

Carcassone, onde concentraram num só local todas as operações necessárias ao fabrico que tecidos, o que proporcionou uma grande prosperidade à família, cuja terceira geração abandonou a indústria para se dedicar à política.

Apareceram palácios urbanos particulares burgueses sumptuosos, o abastecimento de água foi melhorado, as ruas foram pavimentadas e iluminadas, tornando a cidade mais moderna.

As velhas muralhas da cidade foram demolidas no século XVIII.

A tecelagem mecanizada da indústria têxtil britânica provocaram a injusta miséria dos últimos tecelões de qualidade da cidade.

A mecanização supostamente portadora de progresso e riqueza abaixou os salários do tecelões da cidade provocando miséria, fome e descontentamento popular na cidade.

Entre 1795 e 1800 a cidadela deixa de existir como entidade político-administrativa, sendo absorvida por Carcassone (a cidade baixa).

A cidade se reergueu pela revalorização do passado medieval.

A cidadela, completamente arruinada, Eruditos cantaram as glórias do passado e as obras de restauração foram dirigidas com sucesso pelo famoso arquiteto Viollet-le-Duc.

Em 1944, o castelo condal de Carcassona foi usado por tropas alemãs como armazém de munições e explosivos e expulsaram os habitantes.

Também por mistérios ocultistas, as SS e organizações secretas que agiam por dentro do nazismo se engajaram à procura de não se sabe que mistérios, sem nenhum resultado conhecido.

Com três milhões de visitantes anualmente, é um dos locais mais visitados da Europa.







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quarta-feira, 13 de julho de 2022

O senhor do castelo dá a vida pelos súbditos
e esses o seguem com amor

Castelo de Wijnendael, Bélgica
Castelo de Wijnendael, Bélgica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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É difícil sintetizar como era a vida nos castelos medievais, porque ela era extremamente rica e variegada, variando muito segundo os locais.

Em cada lugar era, em verdade, inteiramente diferente. Mas há alguns traços comuns.

No castelo e nos arredores vive a pequena pátria que o espírito feudal formou em torno do barão.

Ela tem seus camponeses e artesãos, que são também seus soldados; seu tribunal, que é presidido pelo senhor; seus costumes, suas tradições de honra e de heroísmo, das quais se orgulha; uma insígnia, um lema e até um nome, que é o do próprio barão.

É um todo orgânico e único, que protege seus membros contra o mundo inimigo.

Graças ao senhor feudal que por eles vigia, os camponeses se sentem protegidos, podem arar, semear e esperar a colheita sem medo de serem surpreendidos por bandidos que os pilhem e escravizem.

Diz uma crônica do tempo que os barões, “para estarem sempre prontos, têm seus cavalos na sala onde dormem”.

Pouco a pouco, por via consuetudinária, vão se estabelecendo contratos. Em retribuição pela proteção que recebem, os camponeses e artesãos dão um tanto do que produzem, para sustentar o barão e sua família, e trabalham uns tantos dias por ano na reparação e conservação do castelo.

Os interesses de uns e outros são solidários; a prosperidade dos súditos é a do barão, que com ela se rejubila; das alegrias e do renome do barão participam os súditos.

O caráter essencial desta grande família, formada pela união íntima das famílias que a compõem, é o amor mútuo, profundo e devotado entre seus membros.

Amor filial e submisso dos súditos para com o senhor, amor paternal e protetor do senhor para com seus súditos.

Uma das belas canções de gesta da época assim descreve os sentimentos do Conde de Artois, vencido numa batalha, ao ver seus homens que jazem por terra:

Sua mesnada está lá, morta, ensangüentada.
Com sua mão direita ele a abençoa,
Sobre ela se inclina e chora
E suas lágrimas correm até a cintura.

Assim como no deserto floresce o oásis junto ao poço, também no princípio da era feudal, nos lugares onde havia homens de valor para erguer a “motte” e o castelo e se opor às arremetidas do inimigo, aí havia trabalho e progresso. Porém, onde não havia senhores fortes e obedecidos, tudo caía na anarquia.

E a França ia se enchendo desses núcleos isolados, formando uma constelação de pequenas soberanias que cresciam espontaneamente, por suas próprias forças, sem planificações de governos, mas com vitalidade e pujança que permitiam prever os esplendores da civilização cristã.

Até inimigos ferrenhos da ordem hierárquica medieval, como o soturno fundador do comunismo Karl Marx, reconhecem que nunca a vida dos operários foi melhor que na Idade Média.

De fato, como constata um comunista divulgador de Marx, (Henri Lefebvre, “Le matérialisme dialectique”, P.U.F., 1962), o senhor feudal tinha outro conceito de seu feudo. Ele não se perguntava quanto valia e qual a vantagem que podia tirar.

Castelo de Montrésor, França, interior
Castelo de Montrésor, França, interior
Olhando para suas terras, bosques, rios, prados, camponeses, aldeinhas ele pensava: estas são as terras pelas quais meus antepassados deram a vida; meu pai e eu mesmo brincamos naquele bosque quando éramos crianças; aqueles são meus camponeses e burgueses por cujos antepassados os meus deram a vida e reciprocamente; eu devo passar tudo isto inteiro e melhorado para meus filhos, e para os filhos deste povo que é minha família num sentido muito largo, porque a Providência quis unir nossa história.

Por isso quando acontecia de algum senhor feudal vender seu feudo, os sinos da igrejinha tocavam a finados. Como se alguém tivesse morrido. De tal maneira, isso era considerado uma desgraça, para os nobres e para o povo.

(Fonte: “Catolicismo”, nº 57, setembro de 1955)


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