quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Neuschwanstein: grandeza harmônica afagante e ameaçadora

Luis II da Baviera. Ferdinand von Piloty,1865,
Bayerische Staatsgemaldesammlungen, Munich.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O castelo de Neuschwanstein foi mandado construir pelo rei Luís II da Baviera (1845-1886).

Ele corresponde a uma concepção romântica ou wagneriana da Idade Média. Mas, é impossível não reconhecer muito valor, sobretudo à realização que ela aqui tem.

Luis II entrou para a história como o rei ao mesmo tempo casto e fabuloso, duvidoso e crapuloso, herói e lamacento.

Foi uma figura ambígua que marcou a história da Baviera.

No castelo nós vemos um dos aspectos bonitos da alma do rei.

Ele era apaixonado pelas coisas medievais.

E mandou construir este castelo com uma nota característica: na Idade Média não se construíam castelos assim.

E ele, ou o engenheiro que trabalhou sob orientação dele, imaginou um castelo não precisamente medieval, mas com todo o espírito medieval. De maneira que tem qualquer coisa que transcende o gótico.

No que? No senso de batalha, de combate e de dignidade afidalgada do homem medieval.


O castelo fica num panorama ultra favorável. Há no fundo um longo movimento montanhoso.

E o castelo está num píncaro em relação às circunjacências, tendo como fundo lagos de água puríssima.

Também há uma floresta plantada que não é floresta virgem. Mas é tão densa e vigorosa que parece floresta virgem

Bem no meio está o castelo. Ele como que recebe sua força dos montes que desembocam nele, dominando tudo o que fica abaixo de um modo soberano.

Deita uma garra sobre a natureza como um rei que procede de uma genealogia fabulosa e domina os seus povos de um modo altaneiro.

Neuschwanstein é um verdadeiro herói que olha do alto os panoramas, e que se sente superior a todo o panorama que considera.

A primeira impressão que sugere Neuschwanstein é produzida pelo jogo das torres.

Sobretudo a mais alta, que desafia os montes que estão atrás, como quem diz: “eu não me contento apenas em jugular o que está abaixo, eu disputo, eu rivalizo com aquilo que está acima de mim, eu estou no píncaro do orbe, acima do que não há ninguém.”

Essa torre é muito alta e se divide em motivos ornamentais. Tem um telhado cônico, muito pontudo também, que dá a sensação de um píncaro do universo.

Ela tem ameias e janelinhas. É uma torre própria para ser habitada.

Dentro pode haver um quarto de pedra com uma grande lareira, onde se queima madeira no inverno, com um vitral.

Lá a gente sente os ventos uivando no inverno ou experimenta a placidez da primavera ou do verão.

É bem diferente de morar num prédio de apartamentos.

O edifício principal é constituído de três andares.

O castelo propriamente dito é o traço de união de duas fileiras que terminam por torres também. Essas torres não são iguais. Uma é a primogênita da outra.

O pátio do castelo recolhe toda a atmosfera de grandeza como numa taça.

O pátio parece um grande terraço de onde se domina a natureza.

O corpo central de Neuschwanstein é um edifício de pedra ou tijolo avermelhado, com um portal magnífico que dá para um terraço, onde há uma última torre.

O conjunto das torres passa a idéia de hierarquia. Elas formam uma verdadeira sinfonia.

É a grandeza que se desdobra em graus até tocar os homens menores, se abrir para eles, afagar quem quer entrar com boa intenção.

Mas é uma ameaça para quem quer entrar com má intenção.

Porque este castelo tem qualquer coisa de fortaleza.

Quem entra de acordo com a vontade do dono com reta intenção, não há maravilhas que não possa encontrar aí dentro. Mas há uma ameaça para o criminoso inimigo.

A gente sente a existência, concreta ou possível, de sinistras masmorras embaixo, para castigar o crime.

É um castelo altamente simbólico.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 2/7/1970. Sem revisão do autor.)


Vídeo: Castelo de Neuschwanstein: o senso do combate e da dignidade afidalgada




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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Castelos ante-salas da vida eterna

Vaux-le-Vicomte, mesa dos nobres
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









A influência apaziguadora da Igreja foi moderando os primitivos impulsos bélicos dos povos bárbaros batizados.

O Direito Romano cristianizado e posteriormente desenvolvido na Idade Média foi instalando o império da Lei pela Europa medieval.

Uma das conseqüências desse progresso foi a diminuição das guerras tribais primeiro, feudais depois.

Nas fronteiras os inimigos tinham sido cristianizados: os Normandos no Norte, os Saxões e outras tribos germânicas e eslavas no Leste, os muçulmanos estavam sendo postos laboriosamente fora da península ibérica.

A finalidade dos castelos foi então se modificando. Sua razão de ser principal ‒ a puramente militar ‒ foi sendo substituída por outra que, de início não era tão evidente.

Vaux-le-Vicomte, quarto de dormir
A nobreza que foi se destilando na era medieval penetrada do espírito do Evangelho desempenhou um papel essencial para a ordem cristã.

O Papa Bento XV de feliz memória não hesitou em qualificar essa missão de “sacerdócio da nobreza”.

Plenamente inserida na ordem temporal e vivendo à testa dela, o nobre estabelece uma espécie de ponte cultural entre a ordem social em que ele vive e o Céu.

Esta vida é transitória, nós estamos nela como os alunos na escola que se preparam para desempenhar uma tarefa na vida. Neste vale de lágrimas nós nos preparamos para a vida eterna.

Como? Antes de tudo cumprindo todos os nossos deveres religiosos como a Igreja ensina.

Depois, vivendo como bons cristãos. Mas, o que significa isso em trocos miúdos?

Vaux-le-Vicomte, escritório
Por exemplo, na hora de escolher a mobília para minha casa, meu quarto, ou aprontar um jantar, dá na mesma escolher um móvel de fábrica que também pode ser comprado e usado diariamente por um protestante, um ateu ou até um satanista?

Evidentemente, há móveis e móveis e uns estão mais de acordo com o espírito cristão e outros não.

Mas, quem vai definir isto? Não é tarefa do sacerdote, cuja missão é estritamente religiosa e sobrenatural.

Também não é matéria de lei nem de regulamentos. Seria preciso uma massa esmagadora de lei, o que acabaria sendo pior.

Acresce que um bom católico, por exemplo um espanhol, pode legitimamente achar mais de acordo com o espírito católico um certo móvel, mas um inglês acha que é um outro de um outro estilo, e o alemão outro, e o francês outro, e assim indefinidamente.

Está ali o papel do nobre: penetrado do espírito da Igreja e profundamente inserido na realidade temporal do local destilar um ambiente, um estilo de vida que está mais de acordo com o espírito católico e com a peculiaridade do povo de seu feudo, de sua região.

Vaux-le-Vicomte, mesa dos criados.
Ele não impõe esse estilo de vida, nem pode fazê-lo. Ele simplesmente dá o bom exemplo de uma vida cultural eximia e extremamente atraente na fidelidade à Igreja.

Ele cria ordem, beleza, ensina o desejo da perfeição até nas pequenas coisas. Propõe um modo de vida virtuoso e extremamente agradável, penetrado do amor à Cruz e ao mesmo tempo aconchegante.

Organiza suave e belamente a vida de seus súbditos, segundo seus modos de ser locais e pessoais.

Ele vai pouco a pouco criando nesta terra de exílio um ambiente que convida a aspirar a felicidade do Céu.

Os castelos foram assim virando um ante-sala da vida eterna.


Vídeo: Castelos ante-salas da vida eterna







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