terça-feira, 24 de novembro de 2015

Glamis: mistérios, combatividade, alteridade, heroísmo

Castelo de Glamis




O espírito escocês gosta da luta, da vida com dramas brumosos. Ele não se sente feito para a plácida vida de todos os dias.

E isso se reflete no castelo de Glamis.

O castelo escocês parece dizer que a batalha é um dos temperos da vida, que lhe dá sabor e a torna digna de ser vivida.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Se queres a paz, prepara-te para a guerra:
lição dos castelos cristãos medievais

Castelo de Coca, Castela, Espanha




Quando vemos aqueles altaneiros castelos da Idade Média –– erguidos nas fronteira do Império de Carlos Magno, às margens do Reno ou do Danúbio, ou mesmo nas rotas que as tropas do Grande Imperador erguiam dentro da própria Espanha, para impedir o avanço dos mouros –– temos a impressão de que esses castelos ainda palpitam da batalha!

Suas pedras parecem pulsar como corações!

Mas... os homens não se lembram da lição de previdência que eles contêm. Qual essa lição? Ninguém ergue castelos no momento em que o adversário ataca. Constroem-se fortificações nos intervalos da guerra.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Força, rudeza, ascensão para o sublime:
o charme dos castelos




A rudeza original dos castelos está ligada aos primórdios caóticos da Idade Média.

A imensa organização do Império romano tinha se desfeito em cacos.

Havia ruído por causa de enxurradas de povos pagãos invasores que entravam desordenadamente pelas fronteiras cada vez mais desguarnecidas do império dos Césares decadentes.

O castelo era o refúgio dos habitantes da região quando as hordas bárbaras vinham devastar, pilhar ou consumir tudo o que havia.

A defesa dos grupos humanos era organizada pelo senhor feudal, líder natural na tentativa de salvação pública.

Muitas vezes esses nobres conseguiam submeter os estrangeiros e assimilá-los à parca ordem que se estava constituindo.

Mas, sobre tudo, a obra pacificadora da Igreja e a pregação constante dos missionários foi convertendo e civilizando os recém chegados.

E quando esses não queriam ouvir o Evangelho, os nobres os punham para fora recorrendo às armas se necessário.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Saumur: o banquete que passou para a História




Num famoso livro de “Orações do Duque de Berry” é representado o castelo francês de Saumur, sobre o rio Loire.

Infelizmente ele foi arrasado nas guerras de religião movidas pelos protestantes calvinistas.

Acabou em ruínas esquecido no período que medeia o fim da Idade Média e passando pela Revolução Francesa chega até nossos dias.

Em décadas recentes, Saumur foi objeto de uma restauração, mas que até agora não conseguiu atingir o nível que teve durante a Idade Média.

É um dos mais belos da Idade Média e um daqueles em que a alma da Idade Média melhor se exprime e melhor se representa.

Saumur foi símbolo de uma época, e de um estilo de viver que associava em feliz consórcio nobres e camponeses, ricos e pobres, todos eles profundamente católicos.

Nele aconteceu um famoso festim oferecido por um rei santo: São Luís IX.

O banquete de Saumur


Em 1237, quando São Luís era um rei muito novo investiu seu irmão Afonso como conde de Poitiers, um riquíssimo, brilhante e populoso feudo.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Desde seu castelo o nobre vela por todo seu povo

Castelo de Chillon, sobre o lago Léman, Suíça
Castelo de Chillon, sobre o lago Léman, Suíça



Na última fase do progresso medieval, deixou de existir o perigo frequente e iminente de invasões. Os países de um modo geral ficaram pacificados.

Então, o castelo feudal perdeu o sentido de refúgio e abrigo para a população e rebanhos.

Ele ficou residência do senhor, de sua família e de sua parentela.

Mas conserva o aspecto militar, pois continua sendo acima de tudo uma fortaleza. Eles ficaram como um reduto inexpugnável que dava ao barão força e prestígio. Para o feudo uma garantia da manutenção da paz e um símbolo de seu orgulho local.

No seu apogeu, o castelo feudal não é mais um simples conjunto de muralhas protegendo as habitações, mas um todo arquitetônico pujante e homogêneo, que apresenta para o exterior muros escarpados, torres, seteiras e ameias, formando a defesa contra agressões.

Warwick, Inglaterra, salão ornado de armas
Warwick, Inglaterra, salão ornado de armas
0 Dentro há apartamentos, claustros e pátios, nos quais se desenrola a vida social.

Enquanto a técnica militar muito desenvolvida o protege exteriormente, as artes decorativas o embelezam por dentro, oferecendo ambiente propício ao florescimento cultural, que atinge um alto nível.

Os castelos de Chillon na Suìça e de Warwick na Grã-Bretanha que ilustram este post, nos fornecem alguns exemplos, entre muitos outros que poderiamos citar.


Vai ficando para trás o tempo em que os castelos se mantinham isolados uns dos outros.

A hierarquia de proteção e devotamento, existente entre o senhor e seus súditos, foi aos poucos se estabelecendo também entre senhores menores e outros mais poderosos.

Estes últimos começam a agrupar sob sua autoridade, pelos mesmos laços de fidelidade, não somente seus vassalos e servos imediatos, mas também outros barões, os quais, conservando intacta sua autoridade sobre seus homens, se tornam eles mesmos vassalos.

Salão de armas do castelo de Chillon, Suíça
Salão de armas do castelo de Chillon, Suíça
O senhor feudal mais importante, por sua vez, faz-se súdito de outro ainda maior, e assim por diante.

Formaram uma imensa pirâmide de suseranias desiguais, dispostas hierarquicamente num escalonamento progressivo, até chegar ao rei.

Este era o barão supremo, o suserano de todos os suseranos, o senhor feudal de todos os senhores feudais, o pai de todos os pais.

Do “donjon” de seu castelo, ele vela pelo seu feudo e por todos os feudos de seus vassalos, por toda a nação.






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terça-feira, 28 de abril de 2015

Castelos que tocam em Deus

Aunqueospese, província de Ávila, região de Castela, Espanha.




Na foto de Aunqueospese, o céu como que fala do Cid Campeador sozinho, traçando os rumos da História, e o Céu que o protege e o acompanha...

O castelo um pouco indica o caminho para as nuvens, e um pouco as nuvens indicam o caminho para ele.

As nuvens falam da epopéia do castelo.

terça-feira, 17 de março de 2015

Harmonia e caridade nas classes sociais
no castelo da Princesa de Chimay

Castelo de Chimay hoje
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Talleyrand nos conta nas memórias dele, o que acontecia no castelo da avó dele, a Princesa de Chimay.

Chimay é um grande título da Bélgica.

Ser Princesa de Chimay era quase como que ser Grã-Duquesa de Luxemburgo, quer dizer, uma soberana independente, de um pequeno feudo.

Quando chegava aos domingos, ela primeiro ia à Missa na capela do castelo. As pessoas pobres da zona que quisessem assistir à Missa iam para o castelo e também assistiam.

Depois da Missa, a princesa ia, acompanhada da pequena nobreza local – portanto, nobreza autêntica mas muito inferior à dos príncipes de Chimay –, para a sala onde ela, a bem dizer, reinava como rainha.

O castelo de Chimay numa iluminura
Ela tinha uma espécie de trono sobre um estrado. Ela subia lá, podia haver uma pequena música militar que a banda tocava enquanto ela passava da capela do castelo para a essa sala.

Os pequenos nobres iam levando as coisas necessárias para a princesa exercer suas atividades curativas.

Um levava panos para passar ungüentos, outros levava uma maleta com remédios, outro levava uma caixa com tesouras e outras coisas que facilitavam alguma pequena intervenção como que cirúrgica.

E a princesa sentada no trono e olhando com bondade para aquele povo que estava lá.

O povo olhava como estava vestida a princesa, como é que ela fazia, como estavam vestidos os parentes dela.

Eles sabiam que a moda mudou vendo os fidalgos pequenos e grandes mudarem de vestidos e de roupas. Viam como se conversava elegantemente, acompanhavam os gestos e a gesticulação da conversa, etc.

Depois começava o desfile das misérias.

Os doentes e os pobres iam passando, ela ia perguntando por que é que não veio tal parente do pobre, se ele melhorou, se não melhorou, mandava lembranças, mandava um pequeno presente, ou então mandava um conselho para fazer tal ou tal coisa para melhorar, etc.

A atual princesa de Chimay recebe simpaticamente os visitantes no castelo
Os populares que podiam, traziam também pequenos presentes.

Às vezes eram petiscos, pães saborosos, leite, ovos, galinhas, porquinhos, frutas, legumes.

E a Princesa de Chimay aproveitava a ocasião para dar esses presentes aos que estavam mais necessitados ou mais fracos.

Isso levava tempo. Quando terminava, os nobres iam todos para a sala de jantar da nobreza.

E na copa e cozinha, e ainda em outras dependências, era a grande festa dos pobres que quisessem ficar para tomar sua refeição pela generosidade da princesa.

Depois isto tudo se dissolvia e o castelo voltava ao seu silêncio majestoso, na paz e no contentamento de alma de todos.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra em 8/4/94, sem revisão do autor)



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terça-feira, 3 de março de 2015

A nobreza do campo brilhava pela capacidade de dirigir respeitosamente a vida agrícola

Casamento de de Carlos VIII e Ana da Bretanha
no castelo de Langeais, França


A nobreza do campo se encontrava com alguma frequência com a nobreza de cidade.

Mas os desentendimentos entre uns e outros não eram pequenos.

A nobreza da cidade tinha como objetivo a cultura, o brilho e a delicadeza, enquanto a nobreza do campo privilegiava a força, a capacidade de dirigir, de administrar, de conduzir com respeito cerimonioso toda uma população de uma aldeia.

Para a guerra, uns e outros competiam, arriscavam a vida com uma audácia que poderia quase ser chamada de loucura. E que representava, em última análise, a velha tradição heroica da Idade Média.

Para a guerra, nobres do campo e da cidade se vestiam como para as mais belas festas, sabendo que muitos iam morrer. E aqueles que daqui a pouco seriam cadáveres, eram sóis partindo a cavalo para o ataque do adversário.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A nobreza do campo levou o esplendor aos castelos
ao mundo agrícola

A nobreza do campo encarnava a identidade da região, Carnasciale, Itália
A nobreza do campo encarnava a identidade da região,
Carnasciale, Itália
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Vencidos os tempos caóticos típicos do início da Idade Média, os nobres que viviam nos castelos-fortalezas foram reformando seus castelos e lhes dando o ar elegante e maravilhoso que hoje contemplamos.

A nobreza continuou assim vivendo no meio do campo numa residência muito boa.

Os castelos na Idade Média, de início rústicos, maciços e austeros por causa de sua finalidade militar, foram sendo ajeitados.

E das inacessíveis fortalezas feudais se passou às residências magníficas que deslumbram os séculos.

Nelas viviam os nobres do campo.

Eles não os derrubaram, mas fizeram algo mais interessante e inteligente: procuraram conservar, tanto quanto possível, o tom medieval original.

E fizeram disso um ponto de honra: afinal de contas foi naquelas torres e muralhas que seus antepassados viveram e morreram para salvar a civilização e a região onde estão instalados.

Interior do castelo de Chaumont, França
Interior do castelo de Chaumont, França
É a dimensão histórica que faz dos castelos medievais algo como que insuperável, mesmo pelas tentativas de imitação como a Disneylândia.

Quando os povos foram se cristianizando, os costumes ficaram menos violentos e a paz foi se instalando por toda Europa.

Os castelos deixaram de ter a finalidade quase exclusivamente militar originária.

Então, os nobres do campo apelaram ao melhor da arquitetura e das artes para embelezar as fortalezas.

Como no tempo dessas melhoras predominava a arte renascentista, censurável debaixo de alguns aspectos e admirável debaixo de outros, os nobres do campo fizeram uma seleção dos novos estilos.

Quarto do castelo de Chenonceaux
Quarto do castelo de Chenonceaux
E criaram uma coisa única: as mais maravilhosas residências dos Tempos Modernos, que reuniam a história e o progresso das artes.

Os castelos de Chenonceaux e de Chambord, para só citar esses, são um exemplo muito concreto.

E as fortalezas militares viraram verdadeiros palácios, e que ainda se chamam de castelos.

O luxo interior, antes inexistente, passou a ser grande, os parques, outrora sacrificados por razoes militares, ficaram magníficos, os terrenos que a nobreza reserva para si passaram a ser plantados como por um pintor formando conjuntos arborizados de sonho.

Nesses parques, instalaram lindos jogos de artifício de água, com espelhos aquáticos e jorros fantasiosos que entretêm a vida do campo, que sem eles facilmente se torna monótona.

A nobreza melhorou os caminhos e ficou muito fácil a viagem de visita de uns castelos para outros, de uns palácios para outros.

Galeria no castelo de Scone, Perth, Escócia
Galeria no castelo de Scone, Perth, Escócia
De maneira que a todo o momento os nobres se reuniam no castelo ou no palácio de um ou de outro para festas de família, casamentos, batizados, reuniões, ou para tratar de interesses comuns da agricultura, ou inclusive interesses políticos gerais.

Muito frequentemente esses castelos de origem medieval eram bem conservados, e ficavam muito bonitos, com tapeçarias, vitrais, móveis finamente trabalhados com as melhores madeiras, porcelanas, pratarias que o comércio trazia para a Europa de continente longínquos, como a Ásia ou a América do Sul, portuguesa ou espanhola.

Também conservavam recordações dos grandes feitos de guerra dos antepassados: armaduras medievais, salas exclusivamente destinadas a servir de uma espécie de museu de armas medievais.

Sala de jantar de Blenheim Palace, Reino Unido
Sala de jantar de Blenheim Palace, Reino Unido
Então aquelas armaduras que cobriam inclusive o rosto, postas de pé apoiadas sobre uma espada, por vezes de meter medo, com aquela presença dava a impressão de que de dentro uma recordação prestigiosa dizia: "Lembre-se que eu fui um herói".

Era frequente também que, nas peças de mobiliário do castelo, figurasse com destaque o escudo da família.

O escudo é como um resumo simbólico do passado e da ascendência da família.

Conhecido como “as armas”, o escudo, ou brasão, incluía aquilo que o duque de Saint-Simon, grande escritor sobre essa matéria, chama de la chimère, quer dizer as origens por vezes quiméricas da família.

Pois muitas daquelas grandes famílias pretendiam descender, de um modo ou do outro, de reis, de príncipes, de figuras famosas, de cruzados, de heróis de guerra, mas a relação ou as provas se tinham perdido através dos séculos.

Esses brasões provinham de costumes imemoriais e davam uma nota de esplendor e de fantasia oriental à atmosfera que cercava a nobreza. E dignificavam a família em um grau extraordinário.

O nobre de fazenda, para usarmos uma expressão caracteristicamente brasileira, representava a força, a coragem, a capacidade de lutar, a capacidade de organização da vida agrícola, virtudes reconhecidas por todos.

Refeitório dos empregados (representados com figuras de cera) no castelo de Breteuil, Ile de France
Refeitório dos empregados (representados com figuras de cera)
no castelo de Breteuil, Ile de France
As senhoras deles naturalmente eram menos rudes, mas montavam a cavalo também e eram a versão feminina de seus maridos.

Isso punha-as muito em contato com os pobres do feudo, e não era raro que muitas delas ajudassem economicamente os pobres.

Para isso mantinham enfermarias nos salões inferiores do castelo.

Também tinham salas onde a senhora do lugar uma vez por semana, às vezes no próprio domingo, recebia os aldeões mais necessitados ou preocupados.

E até tinham uma espécie de consultório médico com os remédios primitivos da época e distribuíam segundo os casos.

Elas entendiam muito de remédios, e ainda não tinham aparecido os médicos especializados com muito mais competência de nossos dias.

Então, elas aprendiam mais ou menos a arte de curar, davam receitas e remédios caseiros, naturalmente grátis, socorriam os pobres, os acidentados, e encaminhavam para o hospital da cidade – em geral religioso – algum necessitado para cuja situação não havia remédio no feudo.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra em 8/4/94, sem revisão do autor)

GLÓRIA CRUZADAS CATEDRAIS ORAÇÕES HEROIS CONTOS CIDADE SIMBOLOS Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS