quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

COMBOURG: austeridade dos nobres nos castelos

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Chateaubriand, grande romancista do século passado, era filho do Visconde de Chateaubriand. A família possuía um castelo da Bretanha perto do mar: Combourg.

É um castelo enorme e a família era pequena, de maneira que não dava para encher todas as alas do castelo. Então o pai, para fazer o castelo habitado em todas as suas partes distribuía a família pelas várias partes do castelo.

E Chateaubriand –menininho de 9, 10 anos, mas já chamado nessa idade Monsieur le Chevalier –, quando chegava 21:00 horas em que o serão familiar se interrompia, recebia um castiçal com uma vela na mão e ia para uma torre perto do mar, onde uivavam todos os ventos.

Combourg fica perto da Mancha cujos ventos são famosos. É um dos trechos do mar mais agitado que há no mundo.

Os ventos todos sopravam por aquela torre, e Monsieur le Chevalier, por mais “Chevalier” que fosse tinha as reações de um menino diante do vento.

Tanto mais que em Combourg havia histórias de fantasmas, aliás de todo castelo se diz que tem fantasmas.

Quando chegava a noite no inverno, ele fechava a cortina em torno da cama. Esse cortinado formava uma verdadeira tendazinha em torno da cama, para que o calor das cobertas e do corpo fique conservado.

Então Monsieur le Chevalier subia alguns degraus para se encarapitar numa cama muito alta e muito grande onde Le Chevalier nadava.

Na torre os ventos uivando, uivando, uivando... E ele naquele cortinado, com pavor que, de repente, um fantasma pálido como a lua abrisse a cortina e olhasse para Monsieur le Chevalier.

Os nobres que eram educados assim, depois quando adultos faziam de tudo, como Chateaubriand. Todos eles eram aventureiros, porque ficaram habituados à aventura desde meninos.

Um velho ditado diz que em menino se torce o pepino. E é o hominho que vai fazer grande o homem.

Quem quiser ter grandes homens tenha grandes hominhos. Nada de educação tola para crianças, com bola boba para criança boba, nada disso.

Reconstituição do quarto de René de Chateaubriand
“Relegado ao lugar inabitado junto à entrada das galerias subterrâneas, não me passava despercebido um só dos murmúrios das trevas. Por vezes o vento parecia correr com passos ligeiros; por vezes exalava gemidos; bruscamente minha porta era sacudida com violência, os subterrâneos rugiam, e depois cessavam para recomeçar mais tarde. Às quatro horas da manhã, a voz do castelão (que era o pai dele) se fazia ouvir chamando o camareiro, sob as abóbadas seculares, ressoando como a voz do último fantasma noturno”.

Então, o último fantasma da noite diante do dia que nascia era o velho Chateaubriand, esquelético, alto, com um olhar que batia como uma pedra e que chamava.

Monsieur le Chevalier entendia que chegou a hora de escapar de lá e de voltar para o convívio dos vivos. Ele tinha passado uma noite inteira com os fantasmas.

A vida dos nobres medievais ‒ Chateaubriand não é da Idade Média, mas há muitas analogias ‒ era muito dura.

Por isso, a maioria da população gostava ficar no aconchego das classes populares, gordas, bem alimentadas, bem aquecidas, preocupadas apenas com o trabalho, a produção, o comércio, a família e a festa.

O nobre era o protetor e o garante da felicidade geral.

Mas, ele próprio no seu castelo, vivia uma vida austera que formava heróis para o dia em que o perigo se abatia sobre a região toda e ele tinha que sair o primeiro a expor a vida para salvar a todos.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 16.2.73. Sem revisão do autor)


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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

GUIMARÃES: afabilidade, bondade, hospitalidade e combatividade

Castelo medieval de Guimarães
Castelo medieval de Guimarães
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs







O castelo de Guimarães é um castelo da Idade Média com reformas de tempos posteriores.

Sério, sóbrio, distinto, ele transmite uma nota que é muito própria aos palácios portugueses.

É uma nota que também faz pensar no Brasil e no estilo de ser brasileiro, e que é a seguinte.

Os castelos europeus são todos muito bonitos, mas estabelecem uma espécie de solução de continuidade entre o castelo e o castelão e quem passa perto.

Eles transmitem a idéia de que o castelo é meio inacessível e onde é meio difícil de entrar.

Essa ideia não é intrinsicamente ruim; pelo contrário, ela cabe bem cabe no papel de quem é superior.

Em linhas gerais eu não critico essa concepção geral das coisas, eu até a louvo.

Pois eu gosto muito das coisas imponentes, majestosas e que sabem estabelecer distâncias.

Paço dos Duques de Bragança, na mesma municipalidade do castelo medieval
Paço dos Duques de Bragança, na mesma municipalidade do castelo medieval
Mas há alguma coisa na índole portuguesa que faz do afeto uma nota característica do espírito nacional, como também no espírito brasileiro.

E o velho castelo português, ou o velho solar português, não diz a quem passa: “Não entre porque eu sou um castelo.”

Mas diz o contrário: “Olha, eu sou um castelo. Não quer entrar?”

E o popular português olha para esse convite com um sorriso largo de quem se sente em seu Portugal, e bem interpretado pelo senhor feudal dono do castelo.

É também o caso de muitos outros solares um pouco apalaciados, como o Solar de Mateus que aparece em garrafas de um conhecido vinho rosé.

O castelo de Guimarães é muito imponente, muito distinto. E é digno de nele morar um príncipe.

Mas ele sugere que qualquer um que nele entrar encontrará ali a sua própria casa. Que será recebido com afabilidade, com bondade, que é uma nota nova que Portugal e Brasil inauguram nas harmonias do mundo. São povos chamados a isso.

Ao lado de autêntico castelo, Guimarães tem qualquer coisa de casa de família.

E quem não conhece o castelão, pode supor que ele é homem de sair e ficar conversando com gente que está em volta.

E que ele é respeitadíssimo. Mais como patriarca do que como governador!

Paço dos Duques de Bragança, na mesma municipalidade do castelo medieval
Paço dos Duques de Bragança, na mesma municipalidade do castelo medieval
O castelo encarna uma certa vocação para a patriarcalidade nas relações superior-inferior que é muito típica do Portugal, e também do Brasil.

Nas casas modernas não se sente mais a intimidade desses castelos, solares e fazendas.

É uma virtude que começou a perfumar o mundo partindo de dentro de Portugal. O modo brasileiro deve ser é esse.

Por exemplo, comparemos Guimarães com o esplêndido castelo mouro de Granada. Esse tem uma beleza monumental que enregela um pouco.

Tome a minha querida torre de Belém, o mosteiro da Batalha, o Jerônimos: não enregelam. A pessoa desabrocha lá dentro.

Há uma qualquer coisa que é própria ao gênio luso que desabrocha no castelo de Guimarães.

Esse gênio assim não leva para a moleza. Basta estudar, ou ler um pouquinho a vida do Beato Nuno Álvares, cavaleiro por excelência, ou de qualquer digno morador de um castelo português para constatá-lo.

O local foi campo de uma batalha decisiva para a formação de Portugal
O local foi campo de uma batalha decisiva para a formação de Portugal
No castelo de Guimarães isso também se percebe.

Em frente dele há o terreno onde se travou uma batalha feroz, dentro das batalhas decisivas da história de Portugal.

Cristãos e mouros ali se agarraram, se mataram, rolaram ums com os outros, no meio das exclamações, das pancadas, das punhaladas e das espadadas, ferozmente.

Porque todas as medalhas têm seu reverso.

Foi a Batalha de São Mamede, travada na periferia da cidade em 24 de Junho de 1128, que teve importância decisiva para a formação do reino de Portugal.

É assim que o castelo de Guimarães, ainda que só olhado por fora, deixa uma recordação imperecível.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 3.8.83. Sem revisão do autor)



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