quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O Monte Saint-Michel
é uma centelha do absoluto divino

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O que é o Mont Saint-Michel: uma abadia? Sim, certamente. Um castelo-fortaleza militar? Também sim e também certamente.

Mas essas respostas não satisfazem inteiramente. Foi um abadia militarizada na sua estrutura material que resistiu a todas as guerras. Nunca foi tomada pelo inimigo.

Para isso ajudou o fato de estar construída numa ilha isolada da terra pelas mais violentas marés do planeta.

Eu pessoalmente fiquei com uma impressão profunda quando o visitei. Fiquei achando que lá mora o próprio São Miguel Arcanjo. E que ele é o senhor feudal, o super-abade, o comandante invincível. Estarei certo?

Fica aberto aqui um tema de discussão.

O certo é que a abadia-fortaleza medieval ficou abandonada até o século XIX. No início desse século languidescia como vil prisão pública, aliás muito desleixada, e que caia em ruínas.

Alguns famosos viajantes escreveram páginas maravilhosas sobre essa joia da Cristandade. Os relatos sensibilizaram a fundo a alma francesa. E os governos acharam melhor conceder ao clamor público e encomendaram ao arquiteto Eugène Emannuel Viollet-le-Duc (1814 — 1879) supervisionar o restauro.

Aliás, o restauro continua até hoje. Mas muita coisa foi avançada e milhões de turistas podem hoje visitar essa residência de anjos guerreiros.

Crê-se que a abadia do monte Saint-Michel começou em 708, quando São Aubert, bispo de Avranches, fez construir no monte Tombe um santuário em honra a São Miguel Arcanjo (Saint-Michel).

O santo bispo foi um verdadeiro chefe de guerra. E não de qualquer guerra. Ele liberou seus fiéis de um imundo e feroz dragão que atacava os homens. Fazendo o Sinal da Cruz e jogando sua estola sobre o animal infernal, lhe ordenou de se afundar no mar e nunca mais ressurgir.

Após a vitória, o arcanjo São Miguel que contemplou aprazido a batalha espiritual desde o Céu, apareceu ao santo bispo em sonhos.

E lhe pediu erigir uma fortaleza abadia em sua honra, no mesmo local onde São Aubert havia derrotado o Maligno.

Já no ano mil existiam livros enchidos com o registro dos milagres que nesse santuário se operavam.

No restauro da abadia do Mont Saint-Michel no século XIX, o arquiteto Viollet-le-Duc deu o golpe de gênio da vida dele.

Ele encontrou, na agulha que ergueu no Monte Saint-Michel, a mais fina realização que coroa a beleza do monte-abadia.

E o mundo inteiro, quando vai lá, vai ver a agulha que Viollet-le-Duc pôs, não vai ver aquela montanha de pedras.

Ao se observar o Monte Saint-Michel, é impossível não sentir entusiasmo diante daquela flecha da Abadia.

O entusiasmo incide propriamente ali.

Sem a flecha, o conjunto perde muitíssimo.

O mesmo não ocorre com a catedral de Notre Dame, que é um escrínio, em que cada parte é bonita.

No Monte Saint-Michel, não: é bonito só porque Viollet-le-Duc — grande especialista em coisas da Idade Média — soube pôr aquela torre central, com aquela flecha, que da uma unidade maravilhosa à construção dispersa e faz com que aquilo seja o ponto de atração de turistas do mundo inteiro.

Há uma centelha do absoluto ali? Onde está?

O observador atento percebe que o edifício todo tende para uma unidade suprema ‒ um unum (fator de unidade), dir-se-ia filosoficamente ‒ e que o edifício é belo em razão daquele unum.

Aquela beleza suprema que define totalmente o Monte parece desprender-se da terra e subir para o céu.

Sobe, sobe... acaba numa flecha tão fininha que dá a impressão de que se dissolve no ar e chega até o seio de Deus.

É, portanto, algo tão bonito que, por ter certa analogia com as belezas de Deus.

Nele se vê a Deus.

E a visão de Deus nessa agulha nos dá a sensação do absoluto divino.

A agulha nos comunica uma centelha do absoluto de Deus.


Apud “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008


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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Chinon: ruínas veneráveis impregnadas de altivez católica

Chinon, sala do encontro de Carlos VII com Santa Joana d'Arc, castelos medievais
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Chinon é o castelo memorável onde Santa Joana d'Arc foi encontrar o Delfim da França, então em plena derrota e devorado por dúvidas interiores.

Naquele castelo, a Santa lhe disse da parte de Deus que era o Rei da França. Por este fato as pedras que restam merecem ser osculadas.

Chinon está em ruínas. Continuam de pé as muralhas e três torres. O resto está arrasado.

A própria sala onde Santa Joana d'Arc encontrou o Delfim, e onde se passou a cena impressionante dela se ajoelhar diante dele para dizer da parte de Deus que ele era filho legítimo do rei de França, portanto, era ele o legítimo rei de França, foi demolida por ordem expressa de Richelieu, um Cardeal-bispo de política absolutista.

A torre que sobra é muito bonita!

Há qualquer coisa que impressiona nessas ruínas por tudo quanto se passou de grandioso naquele lugar.

Parece se sentir ainda no ar os anjos e as bênçãos daquela hora excepcional.

Santa Joana d'Arc chega a Chinon, tapeçaria alemã, Castelos medievais
Santa Joana d'Arc chegando a Chinon
A gente oscula as pedras de Chinon porque não pode oscular os pés de Santa Joana d'Arc.

Um ósculo tem um sentido reparador do cepticismo de vários da entourage da côrte do Delfim, que não acreditavam que Santa Joana d’Arc trazia uma mensagem divina.

Também pela conduta do Delfim que se mostrou débil e fraco até durante o processo de Santa Joana d'Arc. Ele poderia e deveria ter feito de tudo para salvar Santa Joana d'Arc, e foi mole.

Tudo isso convida a uma reparação.

A natureza em volta é agradável. O rio, a ponte em arcos, a curva das águas.

Chinon: vista da cidade e do rio, Castelos Medievais
O rio corre amistoso e doce para o seu confluente e de lá caminha placidamente até o oceano, atravessando a cidadezinha que vive confortavelmente, mas sem grandes modernidades.

Na Idade Média, essas cidades viviam fechadinhas sobre si mesmas e olhando com devoção para o seu próprio passado, na pureza e na moderada, mediana, mas real, distinção de seu modo de ser e de seu modo de viver, despreocupadas com o resto do mundo.

A massa impressionante do castelo, a cidadezinha ao pé dele, o rio, e até a côr da terra forma um contraste agradável.

A pedra do castelo está trabalhada, mas desgastada e furada por toda espécie de coisas. De onde é que vem o muito bonito dele?

Chinon, Tour Coudray, Castelos medievaisÉ uma altivez, uma segurança de si mesmo, uma sobranceria de olhar de cima para baixo as coisas, que verdadeiramente encanta.

Houve um certo dinamismo no castelo pelo onde ele se ergue como uma pessoa viva que com toda a sua estatura tende para o mais alto possível. No fundo tende para o Céu. Há qualquer coisa do desejo do Céu antes de tudo nesse castelo.

Ter-se-ia a impressão que o espírito das pessoas que o construíram é possuído pelo desejo das mais altas coisas: da visão beatífica de Deus Nosso Senhor, do Céu Empíreo. E, na terra, do que há de mais nobre, mais alto na ordem metafísica.
Por causa disso sentiam a sua elevação, a sua dignidade, a sua nobreza enquanto pessoas batizadas e católicas.

Por causa disso sabiam pôr todas as coisas no seu lugar. Pôr no lugar, não é esmagar, não é dar ponta-pés, é pôr em ordem. E tanto amavam a hierarquia do que ficava acima, quanto amavam a hierarquia do que vinha abaixo. Por causa disso sabiam se distanciar do que vinha abaixo, mas distanciar sem desdém, sem pouco caso, mas pelo amor da dignidade que Deus tinha posto nelas.

É uma altivez de cavalheiro, de herói, de cruzado. Não é a altivez de um parvenu milhardário que ganhou muito dinheiro negociando com moedas. É completamente diferente.

Aqui há a batalha, o sacrifício, o risco, a fé, o ideal e a consciência do valor de tudo isso. É a alma do guerreiro católico.

Nisso se percebe o conceito católico da palavra altivez. Não é uma definição moral, mas é uma expressão psicológica desta virtude que se nota aí.


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