terça-feira, 11 de outubro de 2016

Dramas familiares no castelo:
o senhor feudal voltará?

A partida do cavaleiro, detalhe da lareira do castelo de Cardiff, Gales
A partida do cavaleiro,
detalhe da lareira do castelo de Cardiff, Gales
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




E a família dele participava intensamente das dores da guerra e do combate do chefe familiar.

Quando o cavaleiro ia para a guerra, a família rezava para ele e estava sempre à espera de notícias dele.

Não havia alegria maior do que quando o vigia do alto da torre anunciava que bem ao longe nos caminhos, um grupo de cavaleiros se aproximava fazendo sinal convencional de longe, que era o senhor do castelo que voltava.

Às vezes a dor era muito grande, porque em vez de ser o senhor, eram seus vassalos, seus escudeiros, que vinha trazendo seu corpo; ou eram apenas as relíquias dele pois seu corpo ficara no fundo do mar.

A família passava dias, meses, anos de agonia, a espera de uma notícia. As horas e horas de espera, a castelã as enchia rezando ou fazendo tapeçarias.

E as longas tapeçarias relatando vidas de santos ou episódios da vida quotidiana, mostram as longas esperas da castelã que às vezes, em umas horas de folga, subia à torre com uma tapeçaria na mão, trabalhando e olhando para ver se o seu senhor vinha.

Esses dois anos, cinco anos de fidelidade, na mesma espera e sobretudo, na mesma resignação.



Com esta noção eminente da vida humana, do peso do sacrifício, da dor, das altas razões pelas quais um homem deve expor-se ao perigo pela religião, compreende-se que o homem da Idade Média tivesse a condição militar na mais alta consideração.

E a moradia dele fosse também uma construção militar, o castelo, toda voltada para a defesa da região contra os invasores.

Por isso, a era medieval tivesse em alta consideração a condição militar num arranjo inteiramente diferente do que existe hoje.

Castelo de Utrecht, Holanda
Castelo de Utrecht, Holanda
A guerra é um grande mal próprio deste vale de lágrimas mas é inevitável e impõe sacrifícios tremendos.

Mas a Igreja considerando conveniente restringir esses sacrifícios em toda medida do possível, e por isso mesmo restringi-la ao menor número possível de pessoas.

Por isso, na Idade Média não havia a ideia moderna da mobilização geral, que é comum em nossos dias e pode engajar milhões de homens e mulheres.

Hoje arrebenta a guerra e a primeira coisa é um decreto de um presidente ou de uma assembleia de deputados declarando que todo o país está à disposição do exército.

Na Idade Média era diferente: se a guerra era necessária, devia ser limitada o mais possível e só podia ser empreendida pelas mais seletas razões religiosas ou temporais, não por qualquer interesse econômico ou material, passageiro ou outro.

E o homem que ia para a guerra para se sacrificar por todos os que ficavam era o morador do castelo todo preparado desde criança para essa missão sagrada.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra em 1954. Sem revisão do autor)




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