terça-feira, 22 de novembro de 2016

Castelo de Beja: desafiante, afetuoso e sacral

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Uma arquitetura forte, estável, sólida, desafiando qualquer inimigo que venha. Como uma catadura terrível!

Ele é tão admirável que a gente exclama óhóhóhóhóh!!! a respeito de tudo.

O castelo é a própria imagem da defesa cavalheiresca, da defesa aristocrática do solo de Portugal contra os inimigos maometanos que avançam.

No castelo tudo está feito para a guerra, para a seriedade e para a luta.

Hospedar um senhor feudal, ter ali uma repartição da prefeitura municipal do local, são finalidades próprias a quem cuida da vida temporal.

Mas o prédio tem bastante sacralidade para nele caber com toda dignidade uma coisa religiosa. Por exemplo, uma capela com o Santíssimo Sacramento.

O que que isto significa? Isto significa que o modo de ver as coisas da Igreja, do céu e de Deus de um lado, e as coisas da terra de outro, não são idênticos.




Porém, o espírito do medieval era tão sacral, tão religioso, que um prédio que ele construía servia ao mesmo tempo para uma coisa e para outra.

E os senhores podem imaginar por exemplo, num balcão com uma bonita tapeçaria pendente com o escudo do senhor feudal do lugar.

E o senhor feudal aparecendo ali cercado de sua família para receber as homenagens do povo.

E segundo o estilo da Idade Média, se era aniversário do senhor feudal, haver uma esplêndida festa nos salões onde tudo já está preparado para receber os convidados.

E o senhor feudal joga moedas de ouro, de prata, de cobre a mancheias ao povo que está reunido ali e o povo dá vivas, etc.

Na festa, se o povo ficasse quieto, ouvia a música esplêndida do salão. Mas se os nobres ficassem quietos, ouviriam o borbulhar da alegria popular: cantos, danças e gargalhadas.

No meio, brochas assando leitões, bois, ovelhas, cabritos, o que for, e a alegria geral. Estaria tudo muito bem.

Por quê? Porque dentro da visão medieval, tudo se interpenetrava.

A vida da Igreja era uma vida profundamente distinta da vida da sociedade civil, mas penetrava o espírito da sociedade civil.

A vida militar era distinta da vida civil comum, mas era penetrada também pelo espírito da Igreja.


A vida da nobreza, a vida do povo, a vida do clero, tudo se penetrava do espírito sacral.

O que quer dizer espírito sacral?

É uma mentalidade que é voltada a considerar as coisas pelos píncaros de elevação e sublimidade que nelas possa haver. Procura ver esse píncaro de elevação e sublimidade como a nota dominante da coisa.

E isto dá uma nota de elevação e de dignidade religiosa mesmo às coisas temporais.

E é por causa dessa impregnação do espírito religioso que Deus infinito e perfeito transparece no ápice de tudo, inclusive das coisas temporais.

Essa é a sacralidade séria, digna, nobre, aristocrática, mas amiga do povo afetuosa, quase meiga, que reluz no castelo de Beja.

É uma vida feita de tranquilidade, oração, reflexão, trabalho e guerra, na qual o prazer não está ausente, mas não é a nota dominante.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 23/6/89. Sem revisão do autor.)


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2 comentários:

  1. Belíssimo! o Castelo parece estar relativamente bem conservado, será que ainda mora alguém lá?

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  2. Joana Benedita de Lima Moraes23 de novembro de 2016 às 18:15

    Muito legal mesmo! Obrigada1!!!

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