terça-feira, 26 de novembro de 2013

Castelos e jardins: encontro da cultura e da natureza modelada segundo o Paraíso — 1

Vaux-le-Vicomte: uma das obras primas de jardinagem de Le Nôtre
Vaux-le-Vicomte: uma das obras primas de jardinagem de Le Nôtre
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Há já mais de 400 anos que nasceu André Le Nôtre, jardineiro e filho do povo que atingiu a glória realizando os mais famosos jardins do mundo para o rei Luís XIV e outros grandes castelos da nobreza francesa do Grande Século.

Sua mais famosa realização são os jardins do castelo de Versalhes, que ainda hoje maravilham milhões de turistas todo ano.

Mas há, entre outros, o famosíssimo jardim do castelo de Vaux-le-Vicomte, do ex-ministro das Finanças Fouquet, caído em desgraça pela opulência ostentada.

Encontro harmônico dos extremos da pirâmide social

André Le Nôtre foi filho do povo e até recusou título de nobreza.  Mas de um povo católico elevado pelo convívio armónico com a nobreza
André Le Nôtre foi filho do povo e até recusou título de nobreza.
Mas de um povo católico elevado pelo convívio armónico com a nobreza

Le Nôtre foi um talento nascido do povo que o senso hierárquico de Luís XIV e outros grandes nobres soube reconhecer, promover e enaltecer em um altíssimo e merecido grau.

Vice-versa, em não pequena medida, o serviço enlevado e inteligentíssimo do jardineiro contribuiu para a glória imorredoura do Rei Sol e dos grandes nobres da França.

Admirável consórcio de almas posicionadas nas extremidades opostas da ordem social, trabalhando unidas à procura de um ideal de perfeição da ordem natural que ainda deslumbra os homens. 

Algo só verificado na Civilização Cristã.

Sob aristocráticas influências, Le Nôtre desenvolveu seu potencial invulgar de arquiteto e paisagista, maestro supremo na arte de fazer a natureza render o que ela tem de melhor.

Duas grandezas se encontraram num momento histórico, afinando para além da diferença social hierárquica e harmônica da França católica. O jardineiro foi até o fim um amigo e confidente do maior rei de seu século.

A elevação produzida pelo convívio com o rei fez de Le Nôtre também um colecionador de arte inteligente, um homem cujo senso estético segue inspirando os criadores do mundo inteiro.

Os jardins de Chantilly foram outra de suas realizações
Os jardins de Chantilly foram outra de suas realizações
No 400º de seu nascimento, André Le Nôtre recebe elogios como “ourives da terra” e “artesão do eterno”; biografias e álbuns lhe são dedicados, jornais e televisões publicam edições especiais, exposições e espetáculos lhe são consagrados e empreendem-se restaurações de suas mais ousadas criações paisagísticas.

O criador dos Champs-Elysées, dos jardins de Vaux-le-Vicomte, Chantilly, Fontainebleau, Sceaux, Louvre e das Tulherias, do Luxemburgo e de Saint-Germain-en-Laye, de Saint-Cloud e dos jardins de Versalhes – a sua obra prima – , sem esquecer sua contribuição aos projetos dos jardins de Marly-le-Roi, do castelo de Cassel na Alemanha ou o de Windsor na Inglaterra ou ainda da Venaria Reale na Itália, levou a arte da jardinagem a seu mais alto ponto de perfeição, escreveu o diário “Le Figaro”.


Relacionamento com o Rei Sol

Le Nôtre nasceu em 12 de março de 1613 num grande clã familiar que havia 40 anos cuidava dos jardins reais das Tulherias.

Charles Perrault observou: “Certamente é uma vantagem muito grande para se triunfar numa profissão nascer de pais que já a exerceram ou que a exercem bem-sucedidos”.

Detalhe dos jardins de Versailles (Orangerie = Laranjal)
Detalhe dos jardins de Versailles (Orangerie = Laranjal)
Porém existe um mal-entendido sobre o significado de “jardineiro”. Hoje se pensa num homem que trabalha a terra com sua pá e usa um chapéu de palha.

Os títulos de Le Nôtre incluíam o de desenhista de Sua Majestade, conselheiro do rei, controlador geral dos prédios e jardins, das Artes e das Manufaturas, etc.

Ele comandava um exército de operários que realizavam gigantescas obras sob suas ordens.

E gozava da intimidade do rei a ponto de abraçá-lo cada vez que o encontrava, e com o qual se exprimia com rara e respeitosa franqueza.

Durante toda a sua vida o jardineiro conservou o privilegio de oscular o rei.


Vídeo: Le Nôtre: o genial jardineiro


 

Continua no próximo post: Castelos e jardins: encontro da cultura e da natureza modelada segundo o Paraíso — 2




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