quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Trécesson: fascínio, fantasia, fantasmas, anjos e demônios


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






As primeiras menções do castelo de Trécesson remontam ao século VIII enquanto residência dos senhores de Ploërmel e Campénéac, na região de Brocéliande, Morbihan, no ducado da Bretanha, França.

O atual palácio fortificado que conservou o espírito medieval, foi construído a inícios do século XV e é um dos mais impressionantes da Bretanha.

Os seus admiráveis muros avermelhados refletem-se nas águas do fosso que o rodeia na proximidade da floresta e do campo de Coëtquidan. É uma propriedade privada onde moram os donos.

Jean de Trécesson, Camareiro do duque João IV iniciou a construção do atual castelo que ficou com a família até 1773. Desde então passou por várias mãos e foi até esconderijo do deputado girondino Jacques-Joseph Defermon des Chapelières que fugia das vinganças do Terror jacobino na Revolução Francesa.

A entrada é dominada por importante castelejo flanqueado por duas torres estreitas e se acede por uma ponte que atravessa o fosso.

Em volta do pátio interior em forma trapezoidal encontra-se, à direita, um corpo de alojamentos de construção mais recente, instalações domésticas e uma pequena capela senhorial.

A família de Trécesson em verdade existe desde o século XIII e o cavaleiro Jean de Trécesson que começou o castelo atual teve como neto ao chanceler da Bretanha no século XIV.

Cerca de 1440, o último proprietário com o nome de Trécesson casou com Éon de Carné e a família Carné-Trécesson continua até hoje, sendo embaixadores da França no Principado de Mónaco.

Porém em 1773 a última proprietária pertencente à família Carné-Trécesson, por via de sucessivos casamentos passou o castelo à condessa de Prunelé, cujos descendentes residem hoje no palácio.

Uma peculiaridade do castelo são as várias lendas a que está ligado.

A mais conhecida é a da Dama Branca, objeto de filmes e romances.

Mas também há a do Cura Sem Cabeça, a dos Jogadores Fantasmas e a da Residência do Pé de Anónimo.

A lenda da Dama Blanca se remonta a poucos anos antes da Revolução Francesa, e desde então se diz que aparece sobre o teto do castelo as noites de lua cheia, embora ninguém nunca a viu.

Os Jogadores Fantasmas estão ligados a um dormitório no fim do corredor do segundo andar tido como especialmente assombrado.

Certa feita, um convidado disse nada temer e foi dormir no quarto, mas aterrorizado não conseguiu.

Ele teria visto dois gentis-homens apostando nas cartas numa mesa de jogo em seu quarto.

No dia seguinte, o visitante achou pilhas de moedas de ouro sobre a mesa e acabou disputando a propriedade com o castelão de Trécesson no Parlamento de Bretanha, mas não há registro algum.

A lenda mais original é a da Residência do Pé de Anónimo, também uma história ligada ao vício do jogo, infelizmente muito espalhado no Ancien Régime.

Ela conta que o marquês de Trécesson foi à Corte de Versailles onde voltou a seu vício a ponto de perder todas suas posses, o castelo, as terras e as de seus vassalos.

No desespero teria pensado “se fazer voar o cérebro” de um tiro. Mas, seu valet de chambre lhe lembrou que o marquês ainda tinha “o manoir do Pé de Anónimo”, que na realidade era uma miserável choupana feita de madeira apoiada num rochedo.

Era tão insignificante que o marquês esqueceu de jogá-la na mesa onde perdeu tudo. Então voltou a jogar adiantando como valor o desconhecido “manoir do Pé de Anónimo”.

Mas desta vez, a sorte lhe sorriu, acabou ganhando e recuperou todo o perdido.

Acontece que diante de construções imponentes, as pessoas imaginam serem habitadas por seres fantásticos. O corcunda da catedral de Notre Dame imaginado por Victor Hugo na novela pegou por isso.

Mas, pondo de lado a imaginação, nem sempre são sonhos ou nervos. Por isso a Igreja recomenda se aspergir com água benta entrando nas igrejas ou nas residências.

Assim se tem a certeza de receber a bênção de Deus, e de afugentar os demônios que podem infestar os locais ou ligados a crimes acontecidos em tempos remotos.

Por isso também, a Igreja reza no Oficio das Horas, para afastar um tipo especial de tentação que o homem pode sofrer e que denomina na oração em latim “noturna phantasmata”.

Os ‘terrores da noite’ incluem medos que as pessoas podem ter, sobretudo nas situações obscuras e tenebrosas da vida em que o homem não sabe como agir. É algo psicológico, humano.

Então, o homem se acha como numa noite cheia de terrores. E por isso, Deus e Nossa Senhora que é a Medianeira de Deus, pela voz da Igreja reza no hino de Completas que “afaste de nós os sonhos e os fantasmas noturnos”: “Procul recedant somnia, Et noctium phantasmata” (hino Te Lucis Ante Terminum).

Mas nem sempre são espíritos maus, podem ser bons. Na história do Sacro Império Romano Alemão consta que um cavaleiro da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria, que evangelizou o norte da Europa, achava que a Ordem era muito rigorosa.

De fato, vivia em combate o tempo todo e nas horas em que não combatia, passava em oração.

Foi uma Ordem muito protegida por Nossa Senhora e nos combates por vezes apareciam cavaleiros fantasmas que derrotavam os inimigos.

Mas esse cavaleiro achava que sua vida estava tão dura que seria melhor entrar numa outra Ordem menos rigorosa.

No auge da tentação, na noite, apareceram São Bernardo, São Francisco, São Domingos e Santo Agostinho. Ele então pediu a cada um passar para a Ordem deles.

Mas os santos negaram com a cabeça.

Logo depois apareceu Nossa Senhora com uma multidão de cavaleiros da Ordem dele, a Teutônica. Nossa Senhora mandou os cavaleiros levantarem o manto: estavam todos eles feridos.

Então, ele compreendeu que tinha que ficar na Ordem e que ali é que se santificaria.

Há também o caso, que pode acontecer em qualquer lugar, das almas que estão no Purgatório e aparecem a parentes ou religiosos do mesmo instituto para pedir orações, missas e sacrifícios para serem liberados das chamas do Purgatório.

E por vezes deixam provas materiais. Em Roma, não longe da basílica de São Pedro, sobre o Lungotevere perto do início da avenida della Conciliazione, na igreja do Sagrado Coração do Sufrágio existe um Museu das Almas do Purgatório com essas provas e que pode ser visitado por todos os fiéis.


Fala-se também que certos locais santificados pela presença de santos que ali sofreram muito, eles se fazem ver em momentos oportunos para o bem da Igreja.

Corre no Vaticano, que São Pio X apareceria por vezes a algum de seus sucessores que não está andando bem.

Outras vezes não são nem fantasmas, nem almas, nem santos, nem anjos, nem demônios.

Uma velha torre abandonada, carrancuda de má cara, pode acentuar a imaginação de que dentro dela há fantasmas que se movem entre móveis velhos e quebrados.

Essas impressões subjetivas de perigos tremendos, incongruentes parecem fantasmas. E só rezar e se afastam. É um recurso que é um tesouro que a Igreja põe a nossa disposição.

A arquitetura moderna e contemporânea com seus prédios de vidro todos iluminados durante a noite parece ter afastado essas possibilidades.

Mas basta chegar um blackout ou apagão, tão material e comum, que aqueles prédios adquirem o caráter oposto. Por isso, os filmes de terror, os exploram para introduzir monstros criados com efeitos especiais.

Esse tipo de fantasmas alegóricos é mais típico das civilizações modernas e pagãs.

Por vezes, há perigos intuídos coletivamente, e que podem ser muito verdadeiros, como o comunismo ou o próprio demônio.

“Vejo um fantasma horripilante, um monstro horrível, vejo uma fera péssima, um dragão enorme, que se titula em linguagem bíblica Satanás, serpente antiga e cinge na testa uma coroa em que estão escritos os nomes de todas as nações que seduziu e subjugou, todas as nações da Terra”, escrevia didaticamente o Beato Francisco Palau para ensinar-nos que o príncipe das trevas age neste mundo.

Mas, esses espíritos ou fantasias más, não estão em palácios e catedrais onde experimentamos a influência do Sagrado Coração de Jesus, do Coração Imaculado de Maria, de santos e anjos, dos episódios da Cristandade de almas virtuosas que por ali passaram.



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