Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O castelo de El Barco de Ávila, ou Castelo de Valdecorneja, é um palácio fortificado na cidade de El Barco de Ávila, no centro da Espanha, dominando o rio Tormes, desde o ponto mais elevado do vale.
O primeiro castelo foi construído sobre um castro vetão – povo desaparecido – que por sua vez foi destruído pelos romanos.
O atual castelo foi edificado no século XII e reconstruído no século XIV.
Com uma superfície de 1.700 m2, a porta principal é gótica emoldurada. Das ameias e torreões domina-se todo o vale e as serras circundantes.
A arquitetura leva como que esculpida em sua rusticidade séculos de história, dramas e combates.
No interior do castelo existia, inicialmente, um pátio de armas com um bebedouro ao centro e uma galeria de arcadas e colunas românicas adornada com uma belíssima balaustrada gótica.
Pertenceu a uma época em que o castelo teve uma existência puramente militar.
Quando as guerras contra os mouros invasores se afastaram para o sul e afinal acabaram na África, o castelo passou a ser habitado pelos senhores de Valdecorneja, Condes e Duques de Alba, que o acharam muito apertado e incómodo.
Em finais do século XV, o pátio de armas foi transformado num átrio de honra.
Os aposentos das damas estavam situados em linha paralela à costa da Viñas, enquanto os dos cavaleiros tinham vista para o Puerto de Tornavacas, todos eles no segundo piso.
Na parte nobre do castelo, encontrava-se o toucador, a capela, as salas de refeições e o grande salão de assembleias e audiências.
Existiam formosas janelas geminadas com assentos, junto a outras de diferentes épocas.
Uma pequena porta de fuga conduz a uma paisagem de colinas que descem até ao rio.
O edifício foi restaurado várias vezes, devido às incontáveis batalhas que sofreu e a tentativas de incêndio e de bombardeamento.
Foi ocupado pelos árabes, que multiplicaram os poços de água doce na cidade.
Os nomes das ruas e das aldeias evocam essa época épica de guerras. No Barco de Ávila a ruas ainda levem nomes evocativos da ocupação muçulmana como Navamorisca, Navalmoro e Navamures.
O povoado de Santa María de los Caballeros também evoca com seu nome essas épocas.
A Providencia quis que Barco de Ávila fosse um importante ponto da rota para o descobrimento da América malgrado sua posição geográfica central longe dos portos de onde partiam as caravelas para a América.
É que nele nasceram personagens que se destacaram na conquista e evangelização do nosso continente.
Por exemplo, o clérigo Pedro de la Gasca, filho de Juan Jiménez e María Gasca, que foi enviado pela Coroa ao Peru para restaurar a ordem após a morte do primeiro vice-rei, Blasco Núñez Vela.
Ele fundou cidade de La Paz, atual capital da Bolívia, e ordenou as relações entre o Chile e o Rio de la Plata que nos tempos iniciais não estavam bem definidas.
Um dos primeiros navegadores da “Santa María” – uma das três caravelas com que Colombo descobriu América também era de Barco de Ávila.
Em 6 de outubro de 1556, o imperador Carlos V da Alemanha passou com grande comitiva rumo ao mosteiro de Yuste onde transcorreria o fim de sua vida.
Passando pelo porto de Tornavacas, disse palavras que ficaram para a História: “Não vou mais cruzar outro porto senão o da morte”.
O rei Alfonso VIII de Castela concedeu foro especial à cidade definindo os direitos e deveres das autoridades e vizinhos.
No meio da cidade há ermidas, como a de São Pedro del Barco onde nasceu o santo do mesmo nome em 1088.
Quando muito velho, o santo pediu ao Senhor que o informasse do momento de sua morte.
Ele anunciou que aconteceria quando a água da fonte da qual ele bebia se transformasse em vinho.
E assim aconteceu em outubro de 1155, morrendo São Pedro 3 dias depois.
O geral do panorama é de uma natureza agradável, cortada pelo rio Tormes, atravessado ele próprio por uma ponte em arcos numa curva agradável da água que corre amistosa e doce para desembocar placidamente no oceano.
Barco de Ávila conheceu uma vida difícil de guerras, mas nos tempos de paz vivia confortavelmente sem as agitações das grandes urbes modernas.
Portanto, afastada da peste da contemporânea, entre a solene antiguidade do castelo e a beleza do rio. Ali se formavam almas que na vida de todos os dias eram calmas e contemplativas dispostas a partir para as maiores façanhas.
Não se conhecia a agitação das informações virtuais, porque esse tipo de cidades viviam fechadas sobre si mesmas e olhando com devoção para o seu próprio passado.
A nota dominante era da distinção de seu modo de ser e de seu modo de viver, despreocupada com o resto do mundo. Salvo quando algum de seus filhos partia para conquista-lo.
A massa impressionante do castelo produz uma sensação de solidez que marca a fundo as mentalidades.
Algum de seus habitantes podia estar conquistando uma região remota dos Andes mas a lembrança do castelo lhe reavivava a certeza de um ponto fixo e estável, prefigura da estabilidade eterna do Céu.
O castelo transmite uma impressão de altivez mas não de orgulho. Ele não tem a mentalidade de quem “cerra” de cima.
Ter-se-ia a impressão que o espírito das pessoas que o construíram estava possuído pelo desejo das mais altas coisas, de Deus Nosso Senhor, do céu empíreo.
E, na Terra estavam cheias de desejos do que há de mais nobre com vontade de levar essa ordem aos quatro cantos da Terra.
E por isso estavam dispostas a partirem para grandes empresas ainda que no outro canto do globo.
O ambiente histórico de Barco de Ávila ecoa fatos épicos de séculos passados.
Mas convive com uma sábia pacatez que forma a altivez do cavalheiro, do herói, do cruzado, e que não é a soberba do milhardário que ganhou muito dinheiro negociando com moedas.
É uma coisa completamente diferente. Em Barco de Ávila houve batalha, sacrifício, risco, fé, ideal, alimento da alma do guerreiro da Cruz.
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