Garde Republicaine em Chambord com farda histórica da Maison du Roy |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Não foi um mago ou uma fada, mas um aristocrata que menosprezou uma brilhante carreira para reencantar o castelo de Chambord e restaurar suas glórias passadas, escreveu a revista “Valeurs Actuelles”.
Jean d'Haussonville teve um sonho na infância: recuperar o castelo real de Chambord esvaziado de mobília, sem jardins franceses e elementos arquitetônicos claudicantes. E em doze anos à frente do domínio nacional de Chambord, ganhou o apelido de “mago de Chambord”.
O castelo e seu parque se tornaram propriedade do estado em 1930, mas a burocracia estatal exalando o mofo da Revolução Francesa, não fez muito por ele.
Foi uma obra catedral desejada por Francisco I e inspirada em Leonardo da Vinci, construída no maior parque florestal fechado da Europa: 50 quilômetros quadrados.
O evidente desinteresse estatal, responsável pela manutenção, esteve na origem do desabamento de um andar que feriu seis pessoas, após anos de ser transformado em mero estabelecimento público de cariz industrial e comercial.
Jardins restaurados de Chambord |
O gênio aristocrático fez o milagre, e em doze anos, o número de visitantes passou de 600 mil para mais de 1 milhão (1,053 milhão em 2022); o valor da receita cresceu por dez e o número de funcionários, por dois.
O nobre de Haussonville, descendente de Madame de Staël e de uma das famílias mais ilustres de Lorena, apenas empossado decidiu abrir mais uma dezena de quartos e trazer móveis do Mobilier National para preencher as depredações feitas pela Revolução Francesa.
Multiplicou as atividades dentro e fora do castelo: concertos de música, shows equestres, falcoaria, cavalgadas, …
Exibição cavalaria medieval em Chambord |
“Procurei unir a preocupação com a estética e os negócios, sem nunca vender a alma de Chambord ou a minha”, enfatizou Jean d'Haussonville.
Seu diretor de caça, Étienne Guillaumat, confirmou: “Ele tudo fez para melhorar as condições de recepção do público, inclusive dos caçadores; até os uniformes dos agentes e o cerimonial das homenagens com o jogo durante as batidas do regulamento foram reformulados”.
Chambord tornou-se para a caçada um local de referência mundial; Delegações japonesas viajam para Chambord para descobrir como controlar a população de javalis que está invadindo a Terra do Sol Nascente.
Em 2016, conseguiu do americano Stephen Schwarzman um donativo de 3,5 milhões de euros para financiar o restauro dos jardins franceses.
Mobilia de Chambord |
Sofreu oposições e é claro foi invectivado pelo seu perfil de católico aristocrático. Mas soube ser um formidável negociador. “Um punho de ferro em uma luva de veludo”, resume seu amigo Dominique Villeroy de Galhau.
“Ninguém resiste ao charme de Jean; ele consegue convencer quem não bebe uma gota de álcool a investir no vinho Chambord”, ri. Pois em 2015, decidiu replantar quatro hectares de Romorantin, Pinot e Sauvignon e ofereceu aos investidores a oportunidade de comprar vinhas (1.000 euros cada). O sucesso é tanto que Chambord aplica o modelo em árvores da horta, tílias, bancos, árvores cítricas, etc.
Jean d'Haussonville será substituído e aguarda agora seu próximo compromisso. “Deixo como presente ao meu sucessor a restauração das lanternas, que será concluída na primavera; um canteiro de obras de 4 milhões, necessários para a segurança”.
Duas das seis lanternas, de 12 metros e 15 toneladas cada, ameaçavam desabar.
Livre de andaimes Chambord revela aos olhos do mundo inteiro sua melhor luz, erguido como um símbolo da gestão de um bem público.
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