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Posto chave para um belicoso, pecador e penitente senhor feudal |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O castelo de Montreuil-Bellay é uma das mais vastas construções medievais hoje subsistentes, embora muito reformado durante os séculos.
Ele se espraia com ufania no coração da cidade forte – quer dizer rodeada de muralhas – que leva seu mesmo nome.
Na origem do castelo encontramos um homem muito característico dos primeiros séculos medievais: Foulques Nerra (965/970-1040), duque d’Anjou.
Ele foi um personagem de temperamento violento e de uma energia pouco comum. Nele ainda fervia o sangue dos bárbaros não há muito batizados.
Passou para a história como “um dos batalhadores mais agitados da Idade Média”, segundo o historiador Achille Luchaire.
Fazendo jus ao próximo sangue bárbaro, Foulques foi cruel. Mas aqui encontramos uma diferença com o bandido moderno.
Foulques tinha também um coração amante e um enlevo de criança pela pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E isso fez a diferença.
Já foi escrito que “seus remorsos estavam à altura de seus crimes”.
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A sacralidade penetra a intimidade, trazendo a paz de Deus ao lar |
Entre castelos para suas guerras e abadias para purgar suas ofensas a Deus, ele construiu por volta de cem prédios históricos, entre os quais o castelo de Montreuil-Bellay.
Talvez Foulques seja o personagem a quem o vale do Loire mais deve castelos e abadias.
Mais. Peregrinou três vezes à Terra Santa (em 1002, 1006 e 1038), em reparação pelas suas más ações.
Em sua última romaria a Jerusalém, dirigiu-se com o dorso nu até o Santo Sepulcro, enquanto dois de seus servidores, por ordem sua, flagelavam-no e bradavam: “Senhor, recebei o péssimo Foulques, conde d’Anjou, que Te traiu e renegou. Olha para sua alma arrependida, ó Senhor Jesus!”
Após inúmeras guerras, ereção de castelos e abadias, Foulques se extinguiu na paz de Deus na cidade de Metz, na França, voltando da romaria penitencial da Terra Santa que acabamos de mencionar.
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Um dos raros castelos medievais que conservaram todas suas torres |
A família Bellay foi de uma fidelidade exemplar aos reis da França. Por isso, os reis Felipe-Augusto e Luis VIII, avô e pai respectivamente de São Luis IX, instalaram de passagem sua Corte no castelo, nos anos de 1208 e 1244.
Durante a guerra dos Cem Anos o castelo foi herdado sucessivamente pelas casas de Melun, Tancarville e Harcourt, esta descendente de antigos vikings.
Nesse período belicoso o castelo foi aumentado com diversas torres, além de 650 metros de muralhas e 13 torres defensivas, que vieram somar-se às enormes torres redondas e ponte levadiça.
No século XV, sua expansão – carregada de arte, mas de um desmedido desejo do gozo da vida decorrente da Renascença – promoveu uma reforma da poderosa fortaleza.
Muitas janelas foram abertas nos muros, e novas salas, salões de diversos tipos, quartos, salas de jantar e uma escadaria monumental foram introduzidos.
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Em muitos castelos, nobres famílias cultuam o passado cristão |
Todo esse passado heroico e essencialmente católico fizeram de Montreuil-Bellay um símbolo da fidelidade a Deus, ao rei e ao catolicismo.
Esse aspecto foi sublinhado por um fato que encolerizou os inimigos da Igreja e do trono. Durante a Revolução Francesa, o proprietário do castelo, Jean-Bretagne de La Trémoille, permaneceu fiel ao rei legítimo Luiz XVI.
Enfurecidos, os líderes revolucionários confiscaram o castelo e o transformaram numa prisão para mulheres monarquistas.
Após a tempestade revolucionária, por via de casamento, o castelo passou a ser propriedade da nobre família de Grandmaison, que até hoje fornece prefeitos para a cidade e algum senador para a França.
É preciso uma visão aérea para abarcar a enorme dimensão da fortaleza.
Mas não é só dimensão.
Montreuil-Bellay é um universo original que nos arranca da banalidade quotidiana. A surpreendente proliferação de torres – esguias e delicadas umas, massivas e atarracadas outras – desconcerta o visitante moderno, acostumado a prédios retangulares sem nenhum destaque.
E, desde o topo das torres, algumas janelas, talvez acrescentadas na Renascença, olham com desconfiança para quem chega.
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Um bosque imprevisível de torres desafia a chatice moderna |
Afinal, Nossa Senhora, segundo canta seu Ofício, é “terrível como um exército em ordem de batalha” contra Satanás e seus sequazes.
O castelo como que dá um abraço de filho à Igreja sua mãe, e faz-nos relembrar as comovedoras penitencias de seu fundador.
Pecado sempre houve e sempre haverá: é a triste condição deste vale de lágrimas.
Mas a penitência sincera, onde está?
A lembrança de Foulques e a harmonia profunda entre o Estado e a Igreja que encontramos exemplificada na arquitetura de Montreuil-Bellay oferecem um ponto de equilíbrio para os desterrados filhos de Eva.
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achei muito lindo,e fico emocionado e estonteante em saber que pertence a familia Grandmaison,sinto muita emoção em saber que tenho uma linhagem de nobres,pois moro no Rio de Laneiro,Brasil,curti muito,obrigado.
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