terça-feira, 29 de abril de 2014

Aux jardins de Monsieur Le Nôtre

Castelo de Chantilly, Ile de France, França.
Castelo de Chantilly, Ile de France, França.
Nascido em Paris numa família de jardineiros (seu pai Jean era o superintendente dos jardins do palácio das Tulherias, como já o fora seu avô Pierre), André estudou arquitetura e pintura na escola do Louvre, entrando depois no atelier de Simon Vouet, pintor da corte de Luiz XIII, onde aprendeu sobretudo a arte da perspectiva.

O jardineiro enobrecido

Em 1635 foi nomeado superintendente do duque Gastão d’Orleans, irmão do Rei, e, depois, superintendente dos jardins das Tulherias, sucedendo a seu pai.

Nomeado por Luiz XIV Superintendente Geral dos Jardins Reais, a partir de 1657 assumiu também a Controladoria Geral dos Reais Palácios. Seguindo uma antiga tradição, em 1675 o Rei Sol lhe conferiu um título de nobreza, em reconhecimento pelos seus talentos artísticos.


Le Nôtre projetou os jardins de muitos dos mais famosos castelos e palácios da França e do mundo: Fontainebleau, Saint-Germain-en-Laye, Saint-Cloud, Chantilly e outros.

André Le Notre, jardinheiro do rei
André Le Notre, jardinheiro do rei
Ele foi o criador da Avenue des Champs Elysées, em Paris, e também realizou projetos no exterior. A ele devemos o Greenwich Park, de Londres, bem como os jardins de Racconigi e Venaria Reale, em Turim.

Suas obras-primas são, sem dúvida, os jardins do palácio de Vaux-le-Vicomte, pertencente a Nicolas Fouquet, ministro das finanças de Luiz XIV e, especialmente, os jardins do Palácio de Versalhes, onde a arte da jardinagem atingiu um auge nunca superado.

“Dominai a terra” (Gn 1,28)

A arte de Le Nôtre nos leva a uma reflexão não só cultural, mas também teológica. No início dos tempos Deus criou o universo material e nele colocou o homem, dando-lhe uma ordem explicita: “Enchei a terra e sujeitai-a ao vosso domínio” (Gênesis 1,28).

Mas, por assim dizer, deixou a criação a meias, ou seja, após ter criado o universo do nada e de fazer essa obra-prima que é o homem, confiou a este a tarefa de continuar seu divino trabalho pela criação, com base nos seres já existentes, de novas realidades que refletissem a beleza infinita de Deus.

É por isso que Dante Alighieri disse com propriedade que se as criaturas são filhas de Deus, as obras de arte são suas netas.

Todo o universo reflete as perfeições divinas. O homem não pode conhecer a Deus diretamente nesta Terra, mas pode ver o reflexo divino na criação e, assim, elevar-se até Ele. É a contemplação.

Deus concedeu ao homem a capacidade de tomar elementos da criação e trabalhá-los para criar, por sua vez, obras que reflitam as perfeições divinas. É assim que o homem se tornou capaz de pegar um pedaço de mármore e transformá-lo em uma estátua. Ou de acumular pedras de modo a construir um castelo ou uma catedral. Ou ainda de manipular pigmentos para fazer um quadro. Criando beleza, o homem dá glória a Deus.

“Em Le Nôtre a sensibilidade é canalizada e trabalhada pela inteligência— diz o historiador Erik Orsenna. Os jardins conhecidos como ‘à francesa’ não são frios e geométricos. Longe disso! São lugares de criatividade e imaginação, mas sempre em diálogo com a inteligência, que domina” (Entrevista, “Le Figaro”, Hors Série, outubro de 2013, p. 50).

Extasiamo-nos diante da natureza: uma floresta, um vale, uma montanha, um rio... Mas Deus nos concedeu sobretudo uma inteligência, a qual podemos e devemos aplicar a esses elementos para ordená-los e elevá-los a um grau superior de perfeição. É o caso dos jardins de André Le Nôtre.

“O jardim de Le Nôtre é o domínio da inteligência sobre a pura sensibilidade, é o triunfo do inteligível. Ele tem um sentido e uma beleza real — escreve Henri Régnier. O jardim de Le Nôtre satisfaz o espírito juntamente com a vista. Além do prazer dos sentidos,

“Le Nôtre faz com que o jardim também responda à nossa necessidade espiritual de simetria e regularidade. Um jardim não deve ser deixado ao sopro da imaginação fértil, mas deve também favorecer o pensamento.

“Ele deve fornecer uma idéia de grandeza, dignidade e razão. Precisamente porque tal jardim é feito de acordo com estes princípios é que ele é nobre, inteligível, ordenado, e pode ser chamado de ‘clássico’ do mesmo modo que uma tragédia de Racine ou uma obra de Bossuet” (Henri de Régnier, Portraits et souvenirs, Paris 1913).


O papel inspirador da nobreza

Le Nôtre foi capaz de realizar essas maravilhas porque tinha diante de si o modelo de uma resplandecente monarquia. Nascido numa casa que a família possuía nos jardins das Tulherias, ele cresceu contemplando a Família Real e a alta nobreza.

E começou a conceber seus jardins porque conhecia os personagens que iriam passear por eles. Os jardins de Le Nôtre são a transposição para termos vegetais do espírito monárquico e aristocrático francês, levado a um auge por Luiz XIII, e sobretudo por Luiz XIV, tão esplendoroso que recebeu o nome de Rei Sol. Sem Luiz XIV não teria havido um Le Nôtre.

Perguntado sobre por que não existem hoje mais artistas como nos velhos tempos, um conhecido crítico de arte italiano respondeu que uma das causas é a falta de nobres que os inspirem.

Falta uma verdadeira nobreza que busque a beleza e a perfeição em todas as esferas da vida social, que eleve atrás de si as classes mais modestas, e acima de tudo os artistas.

Eis um aspecto muito importante do frisante papel social da nobreza que hoje, infelizmente, tende a desaparecer.

(Autor: Julio Loredo. CATOLICISMO, janeiro 2014).



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Um comentário:

  1. Mais uma vez encantada com a história e as fotos.
    Obrigada! Bom dia!!! Adorei.

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