quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

La Brède: o encanto do castelinho e da vida da pequena nobreza

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A maravilha do Castelo de La Brède consiste precisamente em ser micro.

Trata-se de um pequeno castelo francês. Não é um castelo de grande luxo, é uma habitação comum com proporções de um castelo.

Ele tem certa importância histórica porque nele morou o célebre ‒ e, aliás, malfazejo ‒ barão de Montesquieu. O castelo fica na Gironde, nas proximidades de Bordeaux.

A arquitetura de suas várias partes é um pouco singular. Ele tem um corpo grande, uma ponte levadiça, por baixo da qual corre água, de maneira que, suspensa, ninguém entra no castelo.

Por fim, outro corpo de edifício numa ilhazinha autônoma ligada pela ponte levadiça. Há ainda uma terceira ilha.

Tudo é fortificado. Por qualquer lado, o que se encontra é uma fortificação. É um sistema de defesa do castelão e de sua família na hipótese de um ataque.

O lago ‒vê-se pelo traçado ‒ que é artificial, ou foi um lago natural muito retificado em seus contornos. Ele serve de fosso para o castelo.

Todas as janelas do castelo ficam a considerável altura da superfície das águas.



De maneira que, até encostar um barco para subirem homens armados, estes facilmente podem ser atingidos pelos defensores postados nas janelas mais altas. E o ataque direto ao castelo fica difícil, para quem queira atingi-lo por água.

Então, o recurso do invasor é entrar pela porta. Mas ali encontra várias dificuldades.

Quem entra pela estrada tem que fazer baixar a ponte levadiça e travar uma batalha. Mas, suspendendo a ponte levadiça, a porta de entrada é quase inacessível.

Quem quiser fazer o ataque desse lado é atingido pelas setas dos defen-sores da torre. E o telhado pontudo é feito para evitar que projéteis incendiados caiam sobre os defensores

O quadrilátero é um segundo campo de batalha. Se os defensores da fortaleza forem derrotados na primeira ilha, eles fogem e se fecham na segunda e começam mais uma batalha. Se eles forem derrotados, eles fogem para a terceira e começam outra batalha.

Ou os agressores são em número extremamente grande ou esse castelo é inconquistável.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra pronunciada em 4/9/1967. Sem revisão do autor).


Castelo pequeno, grande história

As origens do castelo de La Brède misturam lenda e realidade. Em 1079 o senhor do castelo e o campeão do exército de Navarra, de nome Hernandes, decidiram resolver o assalto da cidade de Bordeaux por meio de um “duelo singular”.

Em certas guerras medievais, para poupar vidas e desgaste, cada lado escolhia seu campeão que iam duelar. A vitória da batalha era reconhecida ao vencedor do “duelo singular”.

A vitória do senhor de La Brède acabou com o conflito por Bordeaux.

Naquela época, o castelo provavelmente era de madeira e pousava sobre uma colina artificial resultante da escavação do fosso protetor.

Ponte levadiça
Em 1306, La Brède foi feito novo. O plano da época permite discernir “uma das mais antigas fortalezas da Gironda”.

Na guerra dos Cem Anos, o castelo foi deteriorado por tiros de canhão. Então o castelo foi reforçado: um terceiro fosso elíptico em volta dos dois então existentes.

Uma série de pontes levadiças protegidas por muros cheios de “archères” (fendas para os arqueiros jogarem frechas contra o inimigo) permitiam o acesso bem vigiado ao pátio principal, verdadeiro coração da fortaleza.

No centro do pátio, estava o poço d’água, indispensável para a vida e para a resistência em caso de assédio.

Uma torre alta de trinta metros garantia as costas.

Sobre o pátio dava a grande sala que na Idade Média servia para todas as funções que requeressem grande espaço coberto.

Também nesse andar térreo ficavam os quartos dos soldados, a cozinha e a área dos empregados.

Château de La Brède, o grande salão ou aula.
No primeiro andar, sobre a grande sala baixa se situava a grande sala alta, ou aula, destinada a solenidades, refeições e a vida do senhor.

Ela tinha uma grande chaminé decorada com pinturas de personagens a cavalo. O resto do andar servia de residência à família do senhor.

Com o apaziguamento das guerras medievais, o castelo perdeu sua finalidade primeira militar, e passou a ser uma residência agradável. As pontes levadiças ficaram como ornamento. O interior foi todo decorado e reformado e os espaços melhor aproveitados.

Porém, como todos os castelos em geral, La Brède ficou um foco de cultura, desenvolvida por seus proprietários.

Em 1689 nasceu no castelo Charles Louis de Secondat, o universalmente famoso barão de Montesquieu.

Montesquieu ali viveu, trabalhou, escreveu suas grandes obras e recebeu personagens célebres num ambiente que ele se regozijava chamar de “gótico”.

Château de La Brède: o quarto de Montesquieu.
O famoso escritor transformou profundamente a natureza em volta do castelo. Grandes trabalhos de irrigação e saneamento de pântanos visando desenvolver a agricultura, como já tinham feito em certas partes seus antepassados.

E também belos jardins à francesa e florestas plantadas com fantasia e ao mesmo tempo rigor matemático, entremeadas de tapetes verdes bordejados de flores ordenados em belas perspectivas.

Montesquieu acrescentou jardins à inglesa que ele admirou numa viagem à ilha em 1731.

Pois Montesquieu foi um “gentleman farmer”, quer dizer um nobre que se ocupa empenhadamente na melhora da agricultura e da jardinagem.

Quando explodiu a Revolução Francesa, a família Montesquieu não morava mais no castelo tendo cedido às seduções da cidade.

A família foi perseguida pelo furor igualitário. Alguns emigraram outros foram encarcerados e morreram.

Charles Louis de Secondat (1749-1824), neto do famoso Montesquieu e barão de La Brède, participou em várias guerras e acabou se somando aos exércitos monarquistas.

Em represália, o castelo foi confiscado pelos revolucionários, depredado e abandonado, caindo em ruínas.

Durante a restauração monárquica começou a reconstrução.

Um discípulo do arquiteto Eugène Viollet-Le-Duc, restaurou e modernizou o castelo.

La Brède não foi danificado pelas Guerras Mundiais e serviu de local de conservação de obras de arte tiradas das regiões mais focadas pelas batalhas.

Até 2004, La Brède foi uma residência familiar onde morava a condessa Jacqueline de Chabannes. Desde então é um ponto de atração cultural. A história do castelo passou a atrair cada vez mais visitantes.

Em soma, um castelinho pequenininho e uma história grande. Como tantos outros castelos da Idade Média!



Vídeo: o encanto do castelinho e da vida da pequena nobreza





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7 comentários:

  1. Joana Benedita de Lima Moraes6 de agosto de 2014 às 18:06

    Lindooo!!! Ameiiii Tudo. Sem palavras. Obrigada!

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  2. Maria das Graças Dourado Pimenta7 de agosto de 2014 às 15:15

    Um castelo, por pequeno que seja, tem um charme próprio.

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  3. Maravilhoso esse post. Encantada com esse castelo, quisera um dia ter a sorte de visitá-lo, ou melhor ainda, passar um fim de semana.

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  4. A França é o país dos castelos medievais de romance. E são os mais belos do mundo.

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  5. Ótima reportagem.
    Só não entendi o "malfazejo" em relação a Charles-Loius.

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  6. Que história belíssima!! Encantada com este Castelo!!! Como todos da França.Obrigado por nos proporcionar este conhecimento!

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