terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Castelo de Suscinio: afirmatividade, personalidade e combatividade

Castelo de Suscinio: fortaleza "de verão"
Castelo de Suscinio: fortaleza "de verão"
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Próximo de uma praia na localidade de Sarzeau (Morbihan, França), o castelo de Suscinio projeta sua imponente figura.

Ele foi construído na segunda metade do século XIV para servir de residência de verão aos Duques da Bretanha.

Seu nome deriva da palavra bretã Ziskennoù, que significa “local de repouso para os viajantes”, ou “local onde se desce”.

A Bretanha está rodeada de mares, recifes e falésias perigosíssimas.

O perpetuo rumor do mar é sua música de fundo. Os seus múltiplos portos são um refúgio necessário.

Iniciado pelo duque de Bretanha, Pierre de Dreux, em 1218, Suscinio serviu de início como residência para os períodos de caça.

Seus descendentes, João I o Vermelho, João IV e João V aumentaram muito o castelo, construindo no século XV até casamatas para peças de artilharia.

A Bretanha era um ducado virtualmente independente ligado ao Reino da França por laços bastante genéricos.



Castelo de Suscinio: símbolo da alteridade bretã
Castelo de Suscinio: símbolo da alteridade bretã
Até que a última herdeira dos Duques, Ana de Bretanha (1477–1514), casou com o Rei da França Luis XII no castelo de Langeais, após inúmeras peripécias políticas, guerras, tentativas de casamento fracassadas, viuvezes e intrigas.

Ana tornou-se rainha da França e a Bretanha passou a ser feudo da casa real francesa.

A rainha Ana, entretanto, passou para a posteridade a imagem de uma princesa bretã muito ciumenta dos direitos de sua terra natal.

E os bretões de fato foram sempre muito feros em defender sua história, direitos e cultura própria.

Suscinio é um exemplo patente disso.

Quem, vendo suas imponentes torres e sólidas casamatas, teria dito que se trata de um “castelo para se passar as férias de verão”?

A preocupação militar é patente. Uma preocupação mais do que tudo defensiva de seus vizinhos: a França e, do outro lado da Mancha, a Inglaterra.

Castelo de Suscinio: força, lógica, coerência, beleza austera e sublime
Suscinio: força, lógica, coerência, beleza austera e sublime
Precisou chegar a barbárie igualitária da Revolução Francesa para que em 1798 o castelo fosse vendido por preço vil a um mercador que o explorou como canteiro de pedras para construção. Isto é, fez-se tudo para fazê-lo desaparecer.

Por isso é que partes importantes dele não existem mais.

Mas, do que sobrou: que força, que lógica, que coerência, que beleza austera e sublime!

As partes preservadas mostram quase intactas suas características de fortaleza medieval. E constituem um símbolo da alteridade bretã.

A Revolução Francesa empenhou-se em derrubar todos os direitos adquiridos historicamente pelos antigos feudos e regiões.

E desconheceu o contrato passado entre Ana de Bretanha e Luís XII, pelo qual o ducado enfeudado à coroa francesa conservaria seus privilégios, usos e costumes.

O que faz a nobreza da Bretanha?

Reuniu-se e mandou dizer aos revolucionários: “Se vocês continuarem nesse caminho, nós proclamamos a independência da Bretanha. Porque nós tínhamos um contrato e vocês violaram esse contrato. Acabou-se”.

Castelo de Suscinio: símbolo de uma região ufana de sua originalidade
Suscinio: símbolo de uma região ufana de sua originalidade
E eclodiu uma guerra civil.

Do ponto de vista político e jurídico, a França antiga era uma soma de contratos amadurecidos e provados historicamente.

Quando a Revolução Francesa decapitou o Rei Luís XVI, três quartos dos departamentos franceses pegaram em armas, porque os contratos haviam sido violados e a França se sentia desfeita.

Os castelos eram como que os monumentos asseguradores da alteridade local e da noção contratual autêntica.

Por mais essa razão, a Revolução Francesa, consumida pelo fanatismo igualitário, quis apagá-los da superfície do país.

Esses contratos nasceram do fundo da realidade e não tinham nada a ver com o cerebrino “Contrato Social” de Rousseau que, comparado com os autênticos contratos, se assemelha a uma bobagem de salão.

Suscinio está ali lembrando essas verdades.





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2 comentários:

  1. Sou vosso fã, adoro esses artigos, de teor histórico imensurável e cultural. Sempre grato. Grande abraço a todos.

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  2. Adoro todo sobre a idade madia e contemporánea. Castelos medievais, me fascinan, parece até que eu vivi nessa epoca.

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