quarta-feira, 15 de julho de 2020

Hohenzollern e a apetência da Jerusalém celeste


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Por que medieval? Fortificações até mais poderosas foram construídas em muitos estilos, e até mais práticas e modernas. Palácios de governo também.

Entretanto há uma atração da beleza e uma aura de prestígio que só comunicam os prédios em estilo medieval como o castelo alemão de Hohenzollern.

No início do século XIX dele só ficavam as ruínas. Esses tocos de um castelo derruído empolgaram ao príncipe herdeiro e futuro rei da Prússia Frederico Guilherme IV.

Ele mandou refaze-lo, mas como foi dominante no século XIX apelou a um estilo arquetipizado, o neogótico, que sob muitos pontos de vista é mais maravilhoso e grandioso que seus equivalentes ou precedentes estritamente medievais.

Nasceu assim entre as cidades de Hechingen e Bisingen, no coração do Jura suábio, o atual castelo de Hohenzollern, um palácio fortificado destinado a ser residência real da Alemanha.

Em seus primórdios, pela primeira metade do século XI, os condes de Suábia erigiram um primer castelo sobre o “Monte do Povo” (Volksmund), um cume proeminente e isolado do monte Hohenzollern, a uma altitude de 855 metros, sobre Hechingen.



As fundações trazidas à luz do dia falam de um conjunto fortificado capaz de responder a todas as exigências bélicas dos primeiros condes de Zollern.

O castelo tornou-se rapidamente um símbolo dos Hohenzollern e era tido como a “coroa dos castelos suábios”.

Esse primeiro castelo do século XI foi completamente destruído pela União das Cidades Imperiais em 15 de Maio de 1423. Dele restam apenas registros escritos.

Após um período de proibição de reconstruir por parte dos vencedores, a primeira pedra do segundo castelo foi posta com autorização pelo conde Jos Niklas de Zollern.

O novo edifício mais forte e belo que o anterior foi construído durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e ficou concluído em 1641. Nesse período serviu de refúgio à família Hohenzollern.

Depois da Guerra dos Trinta Anos que opôs ferozmente católicos e protestantes, o castelo se manteve principalmente na posse da Casa de Habsburgo, imperadores da Áustria líderes dos católicos.

Em tempos posteriores, o castelo foi ocupado por tropas de procedências diversas em várias guerras até 1798, ano em que entrou completamente em decadência.

Em todo esse tempo a finalidade defensiva militar foi dominante.

No início do século XIX, o edifício estava totalmente em ruínas; de tal forma que a única parte significativa sobrevivente foi a Capela de São Miguel (St. Michaelskapelle).

Em 1819, o príncipe herdeiro e futuro rei protestante da Prússia Frederico Guilherme IV, quis conhecer o local e ficou encantado.

Mandou, então, construir o atual castelo em estilo neogótico com uma alta ideia do castelo medieval. Em 3 de Outubro de 1867 foi inaugurado pelo rei Guilherme I.

No atual prédio entrou uma apetência que está encravada na alma humana. O homem está chamado a viver na eternidade, e como explicam muitos doutores da Igreja, o corpo ressurreto terá moradias.

Não porque tenha necessidades de proteção, pois no Céu nada causará desprazer ou sensação de carência. Pelo contrário tudo será fator de gáudio, inclusive para o corpo ressuscitado. Nada lhe faltará.

E assim como nós nesta terra sentimos um agrado especial num ambiente decorado e modelado segundo nossas preferências, assim será no Céu empíreo para o corpo ressuscitado. Para ele haverá uma residência que atenda tudo o que deseja de melhor.

Por isso no fim do Apocalipse, na parte que encerra as Sagradas Escrituras, o Espírito Santo pela pluma de São João nos descreve o destino final dos bem-aventurados como sendo uma cidade esplendorosa, a Jerusalém celeste, com muros, portas, etc.

Compreende-se que o homem queira fazer algo disso já nesta terra.

E os castelos medievais atendem essa apetência como nenhum outro estilo. O de Hohenzollern é um exemplo

O impressionante sistema de rampas foi desenhado pelo engenheiro-oficial Moritz Karl Ernst von Prittwitz, líder na construção de fortalezas do Reino da Prússia. As obras escultóricas são de Gustav Willgohs.

Hohenzollern expressa o espírito romântico daquele período que cultuou a admiração pelo medieval na Europa toda, repercutindo no mundo especialmente na arquitetura religiosa.

O Castelo Hohenzollern é psicológica e historicamente comparável ao castelo de Neuschwanstein na católica Baviera. Mas é produto de duas famílias completamente diversas e até historicamente opostas.

Hohenzollern inclui também a vontade de representação política do soberano do Reino da Prússia, que queria dar aos castelos dos seus ancestrais uma forma grandiosa, mas com menos fantasia que a da família real da Baviera expressa em Neuschwanstein.

Em 1978 Hohenzollern foi severamente danificado por um sismo, e as obras de restauro duraram até à década de 1990.

O castelo nunca foi habitado por longos períodos, tendo apenas funções representativas. Apenas o último príncipe real, Guilherme da Prússia (1882–1951), viveu por alguns meses nele, depois da sua fuga de Potsdam, no final de 1945. Ele como a sua esposa, a princesa Cecília de Mecklemburgo-Schwerin (1886-1954), estão sepultados no castelo.

O castelo conta com objetos de arte e recordações da história do Reino da Prússia, da família e do antigo Museu Hohenzollern.

Hohenzollern ainda é uma propriedade privada. Dois terços pertencem à linhagem Brandemburgo-prussiana da Casa de Hohenzollern e o restante terço à linhagem suábia-católica.

O Burg Hohenzollern recebe mais de 300.000 visitantes por ano atraídos pelo monumento e pela excelente conservação da sua decoração neogótica.

A entrada se faz pela Porta da Águia que tem ponte levadiça. É preciso percorrer três espirais até chegar ao cerne do castelo. A primeira espiral contorna a Torre de Guilherme.

A segunda acompanha uma espécie de paliçada. Pela terceira se alcança o bastião sudeste, de onde se tem uma magnífica vista.

Pode-se assim atingir os bastiões exteriores: o “Novo Bastião” no noroeste, o “Bastião da Toca da Raposa” no norte, o Spitz no noroeste, o “Bastião Agudo” no oeste, o “Bastião do Jardim” no sudoeste e o “Bastião de São Miguel” no sul.

Entre eles encontram-se, ainda, imagens dos reis prussianos.

O palácio forma um “U”, em cujas extremidades se encontram a capela católica e a capela protestante.

O contorno externo utiliza as velhas muralhas do segundo castelo e as três estruturas ficam sobre as antigas casamatas, decorados com muitos torreões e pináculos.

As quatro torres principais são a “Torre do Imperador” voltada para o “Bastião da Toca da Raposa”, a “Torre do Bispo” orientada para o Spitz, a “Torre do Marquês” orientada para o Scharfeckbastei e a “Torre de São Miguel” voltada para o “Bastião do Jardim”.

No pátio, fica a Torre do Relógio e a torre com as escadas para a residência dos príncipes, onde se encontra o “Salão dos Condes” e a Biblioteca.

A partir deste mesmo pátio, uma escada exterior conduz à sala-de-estar do clã.

O Salão dos Condes se estende por toda a largura da ala sul. Embaixo dele ficam as cozinhas do palácio.

Esse salão junta-se à Torre do Imperador e à biblioteca decorada com afrescos alusivos à história dos Hohenzollern.

Na Torre do Marquês encontra-se o “Salão do Rei” ou “Quarto do Marquês”.

E através de vários salões, chega-se ao “Salão da Rainha” também conhecido como “Salão Azul”.

Nas paredes pendem retratos de família: Rainha Luísa, imperatriz Augusta, imperatriz Vitória e príncipe Valdemar da Prússia, o último pintado pela própria Vitória.

Na galeria dos criados existe um notável quadro que mostra Guilherme I pouco antes de sua morte.

A coleção de armas é exibida na sala do tesouro. Entre as peças destacadas está o manto de Corte da Rainha Luísa, em damasco de seda.

O ponto culminante do tesouro é a Coroa dos Reis Prussianos, adornada com 18 brilhantes e 142 diamantes formando delicados botões de rosa.

A Capela Católica de São Miguel foi ampliada em 1853, embora a sua parte medieval do período entre 1454 e 1461 é a única estrutura que resta do segundo castelo.

A nave e o coro estão cobertos por uma rede de nervuras entrançadas. Os três vitrais do coro, datados entre 1280 e 1290, vieram do panteão dos condes de Zollern no Mosteiro de Stetten.




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